Agência ambiental dos EUA eliminará braço de pesquisa científica

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A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) disse nesta sexta-feira (18) que eliminará seu braço de pesquisa científica e começará a demitir centenas de químicos, biólogos, toxicologistas e outros cientistas, depois de negar por meses que pretendia fazer isso.

A medida ressalta como o governo Trump está avançando com esforços para reduzir a força de trabalho federal e desmantelar agências federais após a Suprema Corte permitir que esses planos prossigam enquanto os processos legais se desenrolam. Cientistas do governo têm sido alvos das demissões em larga escala.

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A decisão de desmantelar o escritório de pesquisa e desenvolvimento da EPA era amplamente esperada desde março, quando um documento vazado que pedia a eliminação do escritório foi relatado pela primeira vez pelo jornal The New York Times. Mas até a última sexta-feira, o governo Trump afirmava que nenhuma decisão final havia sido tomada.

O escritório científico da EPA fornece a pesquisa independente que fundamenta quase todas as políticas e regulamentações da agência. Ele analisou os riscos de produtos químicos perigosos, o impacto da fumaça de incêndios florestais na saúde pública e a contaminação da água potável pelo fraturamento hidráulico, conhecido como fracking. Suas pesquisas frequentemente justificaram regras ambientais mais rigorosas, provocando reações de fabricantes de produtos químicos e outras indústrias.

O administrador da EPA, Lee Zeldin, se gabou de cortar dezenas de regulamentações ambientais, dizendo que quer tornar mais barato e fácil para as indústrias operarem.

Quando o presidente Donald Trump assumiu o cargo, o escritório científico tinha aproximadamente 1.155 funcionários. Mas mais de 325 trabalhadores saíram desde janeiro após aceitarem ofertas de "demissão deferida", de acordo com uma porta-voz da EPA, Molly Vaseliou.

Não ficou imediatamente claro quantos dos aproximadamente 830 funcionários restantes seriam demitidos. Vaseliou disse em um email que a agência ainda não havia iniciado a demissão em larga escala, conhecida como "redução de força".

A Federação Americana de Empregados do Governo Conselho 238, um sindicato que representa mais de 8.000 trabalhadores da EPA, criticou duramente o anúncio de sexta-feira.

O escritório científico "é o coração e o cérebro da EPA", disse Justin Chen, presidente do Conselho 238 da federação. "Sem ele, não temos os meios para avaliar impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Sua destruição devastará a saúde pública em nosso país."

Em uma onda de saídas nas últimas semanas, diretores de programas nacionais de pesquisa sob o escritório de pesquisa e desenvolvimento deixaram a EPA. Eles incluem funcionários de carreira que supervisionavam trabalhos de medição de contaminantes na atmosfera, respostas a emergências ambientais e exposição a produtos químicos e material particulado.

Também saíram os vice-diretores desses programas, bem como dezenas de cientistas seniores, de acordo com vários funcionários da agência.

"Estão desmantelando uma organização de classe mundial, e o povo americano não será bem servido por isso", disse Jennifer Orme-Zavaleta, que trabalhou na EPA por 40 anos e liderou o escritório de pesquisa durante o primeiro governo Trump. "Essas ações são muito míopes, e a maneira como estão conduzindo isso é muito insensível e muito cruel."

Desde que Trump assumiu o cargo, a EPA perdeu mais de 3.700 funcionários por meio de demissões, aposentadorias, renúncias e outras movimentações, caindo de 16,1 mil funcionários em janeiro para 12,4 mil neste mês. Isso leva a força de trabalho da agência a níveis vistos pela última vez durante o governo Reagan.

A administração Trump anunciou anteriormente que moveria algumas das funções científicas para um novo departamento no escritório do administrador da EPA. Orme-Zavaleta e outros disseram que essa mudança ameaçava politizar a pesquisa científica.

Chris Jahn, presidente do American Chemistry Council, um grupo de lobby da indústria química, disse em um comunicado que a organização "apoia a EPA avaliando seus recursos para garantir que o dinheiro dos contribuintes americanos esteja sendo usado de maneira eficiente e eficaz".

A Heritage Foundation, organização de pesquisa conservadora, havia criticado o escritório científico da EPA no Projeto 2025, um plano para reformular o governo federal. O grupo acusou o escritório de ser "inchado, sem prestação de contas, fechado, orientado por resultados, hostil à contribuição pública e legislativa, e inclinado a perseguir objetivos políticos em vez de puramente científicos".

O Competitive Enterprise Institute, outra organização de pesquisa conservadora, pediu a eliminação ou reformulação do programa do escritório para avaliação de produtos químicos tóxicos, conhecido como Sistema Integrado de Informação de Risco, ou IRIS.

"As avaliações do IRIS frequentemente dependem de suposições de perigo no pior cenário que não consideram cenários de exposição do mundo real", escreveu James Broughel, ex-pesquisador sênior do Competitive Enterprise Institute, em um post recente no blog. Broughel agora está associado ao America First Policy Institute, um think tank conservador estreitamente alinhado com o governo Trump.

A EPA disse em um comunicado à imprensa na sexta-feira que economizou US$ 748,8 milhões (R$ 4,17 bilhões) por meio de "melhorias organizacionais" e reduções de pessoal. Zeldin disse no comunicado que os funcionários da agência estavam comprometidos em "ser administradores responsáveis do dinheiro dos seus impostos duramente ganhos".

A EPA planeja realizar uma "reunião geral" para os membros da equipe do escritório científico na segunda-feira à tarde, de acordo com um email de sexta-feira à noite de Maureen Gwinn, a chefe interina do escritório, uma cópia do qual foi analisada pelo New York Times.

"Entendo que este anúncio pode trazer incerteza e preocupação", escreveu Gwinn. "Embora eu ainda não tenha todos os detalhes, estou trabalhando ativamente para reunir mais informações."

Ela concluiu o e-mail com um lembrete: "Por favor, lembrem-se de cuidar de vocês mesmos".

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