Em situações normais, não interessa ao governante que pleiteia a reeleição antecipar o debate sucessório. Ele prefere manter-se apegado até as vésperas do pleito à agenda das bondades administrativas, o que limita as oportunidades da oposição de aparecer e fazer política.
Mas o Brasil não vive uma situação normal no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como não viveu sob o do seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL). Em ambas as situações, a baixa popularidade cedo assolou o mandatário em busca de recondução, o que o estimulou a antecipar a agenda eleitoral.
Vêm de Lula, cuja gestão é ruim ou péssima para 40% dos eleitores, seguidas manifestações sobre sua disposição de candidatar-se no ano que vem. A plataforma do nós contra eles —na qual os petistas posam de defensores dos pobres enquanto acusam os seus críticos de protegerem os ricos— é cantada em uníssono pelos correligionários no governo.
A dificuldade adicional para o presidente vem de sua diminuta base fiel no Congresso Nacional. Ao atiçar o vulcão da campanha mais de um ano antes da eleição, ele ajuda a mobilizar a maioria parlamentar de centro-direita contra as intenções do governo.
Como se isso não bastasse, a incúria orçamentária do Planalto, que escolheu abrir a porta da gastança na metade inicial do mandato e agora assedia o contribuinte para financiar a continuação da farra, ofereceu à oposição um prato cheio com a tentativa destrambelhada de elevar o Imposto sobre Operações Financeiras.
Esse caldeirão de ressentimentos, descontrole fiscal e interesses eleitoreiros produziu na quarta-feira (25) uma derrota parlamentar humilhante para o governo. A Câmara anulou o decreto do IOF por 383 votos (75% da Casa), com mais de 240 vindos de partidos com representante na Esplanada dos Ministérios.
O Senado na sequência reafirmou a decisão dos deputados e só não se evidenciou outra surra numérica porque houve acordo para a aprovação ser simbólica.
Conselheiros da bagunça instigam Lula a manter-se firme na retórica de ricos contra pobres —uma farsa num governo que tanto beneficia os rentistas com os juros de agiota que sua incontinência acarreta— e a apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter a decisão do Congresso.
Dobrar a aposta no confronto com o Legislativo e misturar o Judiciário na confusão seria mais uma decisão desastrada numa série de ações atrapalhadas tomadas nos últimos meses pelo Executivo —série que deveria, pelo contrário, ser interrompida.
Por mais que a desaprovação popular de Lula a incite e a irresponsabilidade da oposição a reforce, a opção de antecipar para junho de 2025 o embate de outubro de 2026 não interessa ao país e só agravará o quadro de potencial paralisia da máquina pública.
É hora de diálogo para que se chegue a um acordo entre os Poderes capaz de conter o peso da gastança sobre o futuro do Brasil.