Cientistas identificaram 20 novos vírus em morcegos na província de Yunnan, na China, incluindo dois relacionados aos letais Nipah e Hendra. A descoberta gera preocupações sobre o risco de patógenos presentes em animais infectarem pessoas.
Os vírus relacionados ao Nipah e Hendra estavam em morcegos frugívoros capturados perto de pomares próximos a vilarejos. Nesses locais, pessoas e animais de fazenda têm maior probabilidade de entrar em contato com a vida selvagem.
A descoberta, descrita em pesquisa publicada nesta terça-feira (24) na revista PLOS Pathogens, destaca o quanto ainda desconhecemos sobre os micróbios transportados por morcegos. Esses animais servem como hospedeiros naturais para alguns dos patógenos mais perigosos do mundo.
Cientistas há muito dizem que as mudanças climáticas, a expansão da agricultura e a urbanização estão aproximando animais e pessoas, aumentando a probabilidade de novos vírus emergirem e desencadearem surtos, como visto com Sars, Ebola e Covid-19.
"O estudo destaca que sabemos muito pouco sobre os vírus que infectam morcegos e aqueles que existem em nosso mundo de forma mais geral", disse Tim Mahony, diretor do Centro de Ciência Animal da Universidade de Queensland, na Austrália, que não fez parte do trabalho.
A pesquisa envolveu cientistas da China e da Universidade de Sydney (Austrália), que examinaram 142 morcegos coletados ao longo de quatro anos em Yunnan.
Ao todo, eles identificaram 22 vírus. Destes, 20 não haviam sido registrados antes. Entre eles estavam dois do gênero Hepinavirus relacionados ao Nipah e Hendra, que podem causar inflamação cerebral fatal e doença respiratória em pessoas, com taxas de mortalidade de até 75%.
A equipe também relatou duas novas espécies bacterianas e um parasita também desconhecido anteriormente.
Enquanto a maioria dos estudos sobre vírus de morcegos se concentra nas fezes, os pesquisadores examinaram o tecido renal dos morcegos, que desempenha um papel na eliminação de vírus através da urina —uma rota de transmissão menos estudada, porém potencialmente importante.
Os dois novos do gênero Hepinavirus foram encontrados em morcegos frugívoros que vivem próximos a áreas agrícolas, onde a urina deles pode contaminar frutas que são consumidas por pessoas ou animais de criação.
As descobertas "ressaltam ameaças zoonóticas críticas", escreveram os autores do estudo, acrescentando que o potencial de tais vírus infectarem humanos ou animais de fazenda precisa de atenção urgente.
Apesar das potenciais implicações, um dos autores correspondentes do estudo recusou-se a falar em detalhes, dizendo à Bloomberg por email que "o tema é bastante sensível" devido à carga política que adquiriu.
Especialistas afirmam que a descoberta é cientificamente significativa, embora ainda seja muito cedo para saber quão perigosos os novos vírus podem ser.
"Essa descoberta basicamente confirma ainda mais a diversidade de vírus de morcegos em geral e dos do gênero Hepinavirus em particular", afirmou Linfa Wang, professor do Programa de Doenças Infecciosas Emergentes da Escola Médica Duke-NUS (Singapura), que não participou do novo estudo. "Minha avaliação geral é que precisamos observar atentamente, mas não devemos nos preocupar excessivamente neste momento."