Depois do fenômeno dos devocionais evangélicos, a ficção cristã surge com enorme potencial comercial

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Apesar de ser um gênero literário de enorme sucesso nos Estados Unidos, com a venda de milhões de exemplares anualmente, a literatura de ficção sempre teve enormes dificuldades de se estabelecer entre as editoras evangélicas brasileiras. Foram inúmeras tentativas frustradas ao longo de décadas. Mas boas notícias vêm, finalmente, surgindo nos últimos anos, graças ao público juvenil.

Uma delas é o sucesso do livro "Corajosas", que depois virou série, publicado em 2023 pela editora Mundo Cristão e escrito pelas brasileiras e evangélicas Arlene Diniz, Queren Ane, Maria S. Araújo e Thaís Oliveira.

A obra traz versões modernas de contos de fadas tradicionais como "Branca de Neve", "O Príncipe e o Sapo", "Cinderela" e "A Bela e a Fera", e aborda temas como amizade, superação, identidade e propósito.

A série, que já conta com outros três produtos, incluindo uma Bíblia, já teria alcançado cerca de 200 mil exemplares vendidos, segundo Renato Fleischner, COO da Mundo Cristão e diretor-tesoureiro do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros).

Outra boa notícia é que a Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, sediará, entre os dias 16 e 19 de julho, a Feira de Ficção Cristã e Cultura (FEFICC), que espera receber mais de 11 mil visitantes.

O evento, que já tem a participação confirmada de cerca de 80 autores, incluindo Robin Gunn Jones, autora best seller norte-americana com mais de 6 milhões de livros vendidos, contará também com cerca de 25 editoras, entre elas Thomas Nelson Brasil, Mundo Cristão e Editora Vida.

A programação inclui rodas de conversa sobre romances e fantasia cristã, concurso de cosplay, encontros com escritores e profissionais do ramo, além de palestras sobre diversos temas da literatura como "O Cristianismo nas Obras de Tolkien". Maiores informações podem ser encontradas no site do evento.

Esse fenômeno pode fazer parte de uma tendência de inserção de produtos evangélicos na cultura nacional, já que a ficção cristã pode ser compreendida como um gênero literário que incorpora valores e princípios cristãos em suas narrativas, e isso não precisa necessariamente se referir a histórias bíblicas ou evangelísticas, nem ser ambientados em uma igreja ou ter personagens caricaturados.

Abordagem e conteúdo semelhante ao que já acontece com variados títulos de não ficção, seja de autoajuda ou de crescimento e desenvolvimento pessoal, que também incorpora valores e princípios cristãos-evangélicos em seu conteúdo e fazem enorme sucesso de vendas, em um país com elevado percentual de cristãos.

Assim como os devocionais diários como "Café com Deus Pai", lidos por brasileiros de diferentes matizes religiosas, ou a música gospel, que também é cantada e apreciada por não evangélicos, a ficção cristã pode estar abrindo caminho para alcançar novos leitores juvenis fora dos arraiais.

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Pode ainda abrir portas para que editoras não religiosas publiquem este gênero literário, em meio a seu catálogo de ficção. Aliás, essa talvez seja uma das formas mais sutis e inteligentes de se aproximar desse público, que muitas vezes olha "atravessado" quando elementos de sua fé são vistos apenas como produtos de consumo.

Considerando que a pesquisa "Retratos da Leitura", divulgada no fim de 2024, mostrou que a internet tira tempo de leitura de 78% dos entrevistados —impactando principalmente os mais jovens— essa pode ser uma boa notícia para todo o mercado editorial, que vê a venda de seus livros de ficção em queda, enquanto a de livros religiosos só aumenta.

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