Ex-porta-voz da PM do Rio vira réu sob acusação de invadir prédio em ação para prender traficante

1 week ago 9

A Auditoria da Justiça Militar do Tribunal de Justiça do Rio tornou réu o tenente-coronel Ivan Souza Blaz Júnior, ex-porta-voz da Polícia Militar, sob a acusação de violação de domicílio e constrangimento ilegal.

A denúncia, oferecida pelo Ministério Público, foi aceita nesta semana e se refere a uma operação sem mandado judicial realizada por Blaz em janeiro deste ano em um prédio residencial na zona sul do Rio.

À época comandante do 2º BPM (Botafogo), Blaz, segundo a acusação, invadiu o edifício na Rua Rui Barbosa, no Flamengo, alegando que buscava prender o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, após receber uma denúncia anônima de que ele estaria visitando o pai no local.

Procurado, Blaz afirmou que ainda não foi intimado ou citado e que desconhece o conteúdo da denúncia. "Meus advogados já estão providenciando habilitação nos autos", disse. "Reitero que a ação teve como único objetivo a prisão de criminoso. O disque denúncia apresentava sua localização."

A Polícia Militar informou que o oficial está atualmente lotado na Subsecretaria Geral de Pessoal e afastado de atividades operacionais. A corporação disse ainda que o inquérito foi encaminhado ao Ministério Público, mas que não foi oficialmente notificada sobre a decisão da Justiça.

Imagens registradas no dia da operação mostram Blaz e uma sargento à paisana rendendo o porteiro do prédio, que foi colocado com o rosto no chão. Outros cinco policiais armados com fuzis e pistolas também participaram da ação.

Segundo o Ministério Público, Blaz simulou ser um morador e tentou entrar no prédio com uma lata de cerveja na mão, sem se identificar como policial. Como teve a entrada negada, permaneceu na área externa até conseguir forçar a entrada com apoio de outros PMs.

Dentro do prédio, o tenente-coronel sacou a arma e obrigou o porteiro a acompanhá-lo em uma vistoria pelos andares. Ainda segundo a denúncia, dois moradores foram constrangidos a entregar os celulares e a permanecer sentados na portaria sob vigilância da policial que o acompanhava.

Ao aceitar a denúncia, a Justiça Militar determinou a suspensão integral do exercício de função pública de Blaz, incluindo atividades administrativas. Para a Justiça, os crimes foram praticados "em razão da função e da posição hierárquica do réu", o que exige seu afastamento.

Blaz também terá que cumprir medidas cautelares, como comparecimento trimestral em juízo, proibição de contato com vítimas ou testemunhas, suspensão do porte de armas e restrição para deixar a comarca onde reside sem autorização judicial.

O processo segue em tramitação na Auditoria da Justiça Militar do Rio.

Quem é Peixão

Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, é apontado pela polícia como chefe do TCP (Terceiro Comando Puro) no Rio de Janeiro. Durante a pandemia, em 2021, fundou o Complexo de Israel, na zona norte da capital, aproveitando a suspensão de operações policiais em favelas por decisão do STF.

Autointitulado traficante evangélico, Peixão batizou seu grupo de Tropa do Arão, em referência ao personagem bíblico que liderou os hebreus ao lado de Moisés. Ele ligou comunidades da região com passarelas improvisadas, a maior delas sobre o rio Pavuna, e ampliou o domínio territorial do TCP.

Segundo registros da polícia, o primeiro crime atribuído a ele remonta a 2012, quando dois homens foram assassinados em Parada de Lucas. Desde então, Peixão passou a controlar áreas com práticas típicas de grupos paramilitares, como a cobrança de taxas de comerciantes e moradores.

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