Fóssil de dinossauro avaliado em até R$ 33 milhões será levado a leilão

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Em 1999, Brock Sisson tinha 16 anos e trabalhava no Museu de Vida Antiga no estado de Utah, nos Estados Unidos. Ele recebeu uma caixa com um aviso para não deixá-la cair. Dentro estava a mandíbula superior e o chifre nasal de um jovem Ceratosaurus, um dinossauro predador de 150 milhões de anos.

Em julho, a Sotheby's pretende leiloar esse espécime, cujo valor é estimado entre US$ 4 milhões e US$ 6 milhões (R$ 22 milhões e R$ 33 milhões, respectivamente).

O leilão está marcado para acontecer cerca de um ano após o do Apex, um estegossauro arrematado pelo bilionário de fundos de hedge Kenneth Griffin por US$ 44,6 milhões (R$ 244 milhões, à época).

Com a iminente venda do ceratossauro, paleontólogos estão expressando preocupação com a possibilidade de que outro leilão multimilionário possa distorcer o mercado de fósseis. Eles temem que o aumento da especulação possa elevar ainda mais os preços já crescentes das escavações de fósseis e levar investidores a negócios enganosos.

Especialistas da Sotheby's dizem que, ao atrair o interesse de potenciais doadores, esse tipo de negociação injeta mais filantropia no campo da paleontologia.

O ceratossauro, ao qual os vendedores optaram por não dar um apelido, foi descoberto em 1996 perto de Bone Cabin Quarry, no estado de Wyoming. É apenas o quarto esqueleto de Ceratosaurus já encontrado, e o único juvenil. O espécime de três metros de comprimento é notável por seu crânio completo, composto de 57 ossos "finos como papel, super delicados", segundo Sisson.

O esqueleto foi adquirido pelo Museu de Vida Antiga, onde Sisson trabalhou quando era adolescente. Anos depois, ele formou sua própria empresa de paleontologia, a Fossilogic, e não havia esquecido o ceratossauro. "Esse é um espécime bastante interessante cientificamente, mas estava apenas ali parado sem receber nenhuma atenção."

Em 2024, o museu vendeu o dinossauro a Sisson por um valor que ele se recusou a revelar.

Alguns pesquisadores questionaram a decisão de pôr um espécime de museu em mãos privadas. A decisão de vender a um "amigo e parceiro de longa data do museu" foi tomada com a aprovação unânime do conselho de administração, de acordo com McKay Christensen, CEO do Thanksgiving Point, proprietário do museu.

Os rendimentos da venda, afirmou o executivo, "são importantes e necessários para nossa sustentabilidade contínua e exclusivamente reservados e utilizados para manter e proteger nossas coleções, educar visitantes e expandir ainda mais nossas coleções".

"Este ceratossauro juvenil é um espécime notável", afirmou Cassandra Hatton, vice-presidente e chefe global de ciência e história natural da Sothebys. Ela observou que, como o Museu de Vida Antiga não possui certificação paleontológica como repositório público, o espécime nunca foi completamente descrito ou estudado.

Hatton citou a venda de Sue, um fóssil de Tyrannosaurus rex, para o Museu Field em Chicago, e o atual empréstimo de quatro anos de Apex, o esqueleto de um estegossauro, para o Museu Americano de História Natural, como evidência do "histórico da casa de leilões em ajudar a colocar espécimes como este sob tutela pública".

Sisson e sua equipe reconstruíram o esqueleto, utilizaram impressão 3D e elementos esculpidos para preencher os ossos ausentes e montaram os fósseis genuínos em suportes de metal de qualidade, permitindo que os ossos sejam removidos individualmente e, segundo ele, preservando-os para fins de pesquisa.

Assim como o Apex, o espécime será oferecido com registros complementares e documentação de sua escavação original pela Western Paleontological Laboratories e da reconstrução de Sisson. Essa documentação ajuda a manter sua integridade científica, de acordo com Hatton.

Isso também aumenta o valor do fóssil.

Andre LuJan, presidente da Associação de Paleontologia Aplicada, um grupo comercial que representa preparadores, fabricantes e muitos paleontólogos que atuam no setor privado, disse que elevar o padrão de documentação para dinossauros levados ao mercado teve um efeito positivo ao impedir que alguns materiais disputados fossem a leilão.

Mas ele e outros no campo também veem um "efeito Apex" após a venda do estegossauro e temem que o leilão do ceratossauro possa piorar isso. Os preços dos arrendamentos de terras, onde paleontólogos encontram novos espécimes cientificamente importantes, já estavam subindo o suficiente para prejudicar pesquisadores acadêmicos. Agora está pressionando operadores comerciais também, segundo LuJan.

"Os proprietários de terras veem o mercado subir e pensam: 'Ah, não estamos cobrando o suficiente pelos nossos arrendamentos'", disse LuJan. "Mas eles não entendem a volatilidade do mercado."

Algumas entidades também estão começando a promover fósseis como potenciais oportunidades de investimento. Em dezembro passado, houve a venda de US$ 2,75 milhões em ações para financiar a escavação de um estegossauro de Wyoming, de acordo com o site Cowboy State Daily. Os escavadores, que mantiveram 80% das ações, disseram que acreditavam que ele poderia ser vendido em um leilão por um valor equivalente ao do Apex.

Essa abordagem "democratiza o acesso a ativos de alto valor", na avaliação de Peter Lovisek, um negociante e avaliador de fósseis que trabalhou com uma empresa europeia, Konvi, em vendas semelhantes.

Embora a venda de fósseis em leilão continue amplamente aceita entre paleontólogos que atuam no setor privado, LuJan disse que está preocupado com a venda de ações especulativas antecipadamente.

"É uma maneira de se aproveitar do otimismo das pessoas", afirmou LuJan. "Mas muitas pessoas vão acabar arcando com o prejuízo."

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