Israel precisava ter atacado o Irã? NÃO

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Israel não deveria ter atacado o Irã. Sua ação aprofundou a instabilidade regional e ameaçou iniciar um conflito global em meio a um cenário de grande crise internacional.

Não partimos da convicção ingênua de que a paz será alcançada sem compromissos que neutralizam ameaças regionais e ofendem interesses nacionais, mas da certeza de que a segurança coletiva só é possível quando baseada em acordos políticos aplicáveis, e não em destruição mútua.

Mais que a ameaça que o Irã possa representar para Israel, e independentemente da avaliação que se faça de ambos os regimes, a resposta passa por como construir relações internacionais seguras de forma verdadeiramente sustentável.

A história recente da região ensina que violência alimenta violência. Guerras e ataques preventivos, com seus ciclos de retaliação, apenas contribuem para amplificar ódios e ressentimentos. Bombas jamais construíram regimes mais democráticos em solo estrangeiro, como abundantes exemplos recentes, da Líbia ao Afeganistão, indicam.

Ao contrário, a militarização das respostas desestabiliza ainda mais países já fragilizados. A cada novo ataque contra lideranças militares no Irã, vem assumindo uma nova geração mais comprometida com o desenvolvimento da bomba atômica e a perseguição a opositores.

Invariavelmente, quem paga o preço real dos bombardeios são os civis.

Em menos de duas semanas, foram centenas de mortos no Irã e Israel, e um número ainda maior em Gaza, onde o genocídio segue impunemente. Os governos israelense e norte-americano, tanto no plano doméstico como internacional, têm buscado estimular medo e pânico como pretexto para redução de direitos democráticos básicos.

Há pelo menos 30 anos Netanyahu alega estarmos na iminência de uma bomba nuclear iraniana sem que haja evidências críveis a esse respeito, como confirmam a Aiea e a inteligência norte-americana.

Da mesma forma, é impossível ignorar os paralelos com as alegações de existência de armas de destruição em massa que serviram como pretexto para a invasão ao Iraque, em 2003.

Os acordos de paz entre Israel e o Egito, em 1979, e entre Israel e a Jordânia, em 1994, não nasceram de bombardeios, mas de anos de diplomacia e construção de confiança mútua.

É falso dizer que a diplomacia foi esgotada. Ela foi abandonada.

O acordo nuclear com o Irã, assinado em 2015, foi desmantelado sem que se apresentasse uma proposta alternativa viável. Em 2023, iniciativas de mediação promovidas por países como Catar e Egito, voltadas ao cessar-fogo, foram recusadas por Israel. Os recentes ataques ao Irã devem ser compreendidos também nesta chave, revelando que Netanyahu e Trump não objetivam a construção da paz, mas a sustentação da instabilidade.

Aos que defendem mais este ataque, caberá encarar as consequências reais de um novo conflito em um mundo em que as maiores potências nucleares têm se tornado regimes com feições autocráticas.

A história das relações internacionais do século 20 nos mostra que a participação em foros multilaterais, ao contrário, pode moderar regimes e difundir normas e valores democráticos. Em momentos como este, é urgente que as lideranças globais se comprometam com saídas negociadas, rejeitando as soluções por meio da força.

Mais do que nunca, será preciso voltar à mesa de negociação, sob o risco de que todos nós, mas em especial aqueles mais vulneráveis, sofram as consequências de ainda outro capítulo de uma história que insiste em se repetir.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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