Por vezes, a história caminha com passos de chumbo. E, outras vezes, ela acelera com a fúria de caças supersônicos sobrevoando o céu de Teerã.
No dia 20 passado, Israel cruzou o limiar entre a paciência estratégica e a ação decisiva ao realizar ataques contra instalações nucleares e de mísseis balísticos no Irã. Para alguns, um "ato de guerra". Para quem conhece o roteiro, apenas o segundo ato de uma tragédia anunciada —escrita, aliás, por Teerã.
A República Islâmica do Irã é, há mais de quatro décadas, uma fábrica de instabilidade com produção em escala industrial.
Desde a revolução de 1979, que trocou um regime autoritário por uma teocracia totalitária, o Irã não se contentou em reprimir sua própria população —mulheres chicoteadas, gays enforcados em praça pública e dissidentes condenados à prisão perpétua—, e ainda exportou sua ideologia. Hezbollah no Líbano, Hamas em Gaza, Houthis no Iêmen, milícias xiitas no Iraque e na Síria. Todos subsidiados pelo bolso fundo dos aiatolás e abastecidos com o ódio refinado nas madrassas de Qom.
O acordo nuclear de 2015, negociado sob os auspícios do então presidente Obama, prometia adiar —mas não impedir— a bomba iraniana. Um pacto de "confiança" com um regime que mente de maneira contumaz à Agência Internacional de Energia Atômica e escondeu, por décadas, instalações nucleares secretas em Natanz, Fordow e Arak.
Um tratado com validade de iogurte: 15 anos. Sem menção ao programa de mísseis, silêncio absoluto sobre o financiamento ao terrorismo e nenhuma cláusula para proteger Israel —o único país do mundo que enfrenta, diariamente, declarações formais de extermínio vindas de um Estado-membro da ONU.
Além do ódio a Israel e ao Ocidente, o regime iraniano desafia a própria lógica do multilateralismo.
Recusou qualquer diálogo sério sobre a solução de dois Estados para o conflito com os palestinos porque o problema, para o regime iraniano, nunca foi 1967, mas 1948. Eles não querem a retirada de assentamentos; querem o desaparecimento de Tel Aviv.
E assim, como um bombeiro acusado de incendiar a floresta, Israel é hoje criticado por apagar as chamas prestes a consumir o Oriente Médio. E depois, provavelmente, o mundo inteiro.
Sejamos claros: quando um regime, sob sanções internacionais, continua a enriquecer urânio a níveis próximos aos necessários para armas nucleares, constrói mísseis balísticos de longo alcance e prega a destruição de outro Estado soberano, ele não está buscando equilíbrio estratégico, está preparando um apocalipse. E quando a diplomacia se exaure e a chantagem se nutre de fundamentalismo religioso, resta a autodeterminação, não como capricho bélico, mas como obrigação existencial.
Israel, ao atacar, não escolheu a guerra, escolheu sobreviver. E fez aquilo que qualquer país civilizado faria ao ver seu vizinho acumular gasolina e fósforos ao lado da cerca.
A passividade diante do Irã não é prudência; é ingenuidade travestida de diplomacia. Cada adiamento, cada resolução inócua votada entre discursos vazios na ONU, deu ao regime dos aiatolás o tempo precioso de que precisava para avançar seu projeto de enriquecimento de urânio rumo à bomba atômica. O que o mundo chama de contenção, o Irã traduziu como permissão.
A paz, como dizia Churchill, é construída com força. E, às vezes, para evitar uma tragédia maior, é preciso explodir uma mentira cuidadosamente construída.
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