Aos 98 anos, Loretana Paolieri Pancera ainda se lembrava com facilidade dos nomes das suas professoras do curso de normalista, de quem ela havia sido aluna mais de sete décadas antes. Falava delas com tom de respeito quando lembrava do período em que ela própria começou a dar aulas para crianças.
Loretana, que foi professora de ensino primário por 41 anos, considerava a profissão algo sagrado. Em 2024, durante uma entrevista a um podcast do Centro do Professorado Paulista (CPP), disse que não saberia o que fazer se não fosse professora. Uma frase modesta, já que exerceu várias outras atividades durante décadas.
Ela se projetou como liderança política da categoria no estado de São Paulo durante greves, campanhas salariais e fóruns de debate sobre condições de trabalho na área de educação.
Nascida em 1926 em Piracicaba, no interior paulista, era filha de imigrantes italianos --Carlos Paolieri e Virgínia Dell Amodesta Paolieri-- que se mudaram para a capital. Tinha cinco irmãos mais velhos e uma irmã mais nova.
Formou-se na Escola Normal Padre Anchieta —no Brás, na região central de São Paulo— em 1944 e depois fez o curso de pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nove de Julho. Foi professora substituta durante oito anos e, em 1953, entrou formalmente no magistério paulista como professora de uma escola em Campos do Jordão.
Pouco tempo depois mudou de volta para a capital. Lecionou também na Escola Mista do bairro Jardim Peri, ainda na década de 1950. Mas foi na mesma onde já havia sido aluna —o Grupo Escolar Buenos Aires, em Santana, na zona norte— que ela passou a maior parte de sua carreira como professora. Depois, chegou a diretora.
Foi em Santana que ela conheceu Carlos, em um estúdio de ourives onde ele vendia estojos para joias. Casaram-se e tiveram Eugênio, o filho único do casal, que nasceu em 1955. A família morou no mesmo bairro por toda a vida.
Por alguns anos, foi voluntária no atendimento social de famílias pobres no Hospital São Camilo nas horas vagas. Em 1995, fundou o Coral das Mestras Paulistas, que canta músicas tradicionais brasileiras e natalinas e chegou a gravar dois álbuns.
Quando se aposentou compulsoriamente na carreira estadual, em 1996, Loretana intensificou sua militância no CPP —que, com cerca de 120 mil associados, é considerado uma das maiores entidades representativas de professores da América Latina.
Chegou a ser primeira vice-presidente em 1997, posição que manteve por 25 anos. Em 2022, tornou-se a primeira mulher a liderar a entidade em quase cem anos de história.
Quando era procurada pela imprensa durante as paralisações dos professores, costumava chamar atenção para as promessas que o governo estadual descumpria e para as defasagens na remuneração. Sentia prazer em subir nos carros de som e discursar para os colegas.
Loretana morreu no dia 6 de julho, deixando filho, nora e dois netos.