Quando começava a ver um filme, Fatima Cristina Taranto Martins não ficava atenta apenas aos personagens, histórias, cenários, trilha sonora e tudo o mais que encanta o espectador comum. Seu olhar ia também para os sinais de desgaste da película e problemas nas emendas dos rolos, ou seja, para o que garantiria que aquele filme poderia ser visto com qualidade nos anos seguintes.
Ela foi profissional de uma atividade que se desenvolveu nas últimas décadas no Brasil a partir muito mais da paixão dos profissionais do que de uma política estruturada: a preservação audiovisual. Ela mesma trabalhou na Embrafilme, extinta durante o governo Collor (1990-1992), na Fundação do Cinema Brasileiro e no Arquivo Nacional.
Originalmente, sua paixão nem era o cinema, mas o teatro. Na adolescência, Fatima sonhava ser atriz e chegou a trocar o Rio de Janeiro por Viçosa, no interior de Minas Gerais, para participar de um curso de um grupo teatral.
A mudança começou graças ao irmão Luiz, que já se dedicava aos cineclubes. Depois de um baque com o Ato Institucional número 5 (AI-5), de 1968, quando as programações passaram a sofrer com a censura da ditadura militar, os grupos dedicados à exibição de filmes passaram por um processo de retomada ao longo dos anos 1970.
Na segunda metade da década, Fatima participou da fundação do Cineclube Anecy Rocha, na Associação Atlética Raio de Sol, em Vila Isabel, zona norte do Rio. O nome era uma homenagem à atriz, irmã de Glauber Rocha e uma das musas do cinema novo. Fatima se orgulhava de ter sido o primeiro cineclube com o nome de uma mulher no Rio de Janeiro.
Na mesma época, começou a participar da Federação de Cineclubes do Estado do Rio e viajou pela primeira vez para a Jornada Nacional de Cineclubes de Caxias do Sul (RS), que era realizada anualmente.
Participou na sequência de outros cineclubes no Rio, como Barravento, Macunaíma e Estação Botafogo, e do Cantareira, em Niterói. Com o movimento de profissionalização das pessoas que atuavam nesse segmento, começou a trabalhar, em 1985, no Departamento de Mercados Especiais da Embrafilme. Passou para a área de preservação dois anos depois.
Já na área de preservação, passou pela Fundação do Cinema Brasileiro, pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv) e pelo Arquivo Nacional. Participou da fundação da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA). Além do cinema, era ligada também ao samba.
Morreu no dia 22 de abril, aos 67 anos. Deixa o filho, Lucas, que é artista plástico.