Quando chegou a hora de optar por uma carreira, o jovem Maurício Granadeiro Guimarães se manteve na tradição familiar e escolheu estudar direito no largo São Francisco, no centro de São Paulo, onde está a faculdade da USP (Universidade de São Paulo).
Formado em 1964, entrou para o escritório da família, criado em 1893. Ao longo da carreira, Maurício marcou sua trajetória com a seriedade e o destaque reconhecido por pares no direito do trabalho, área tradicional no Granadeiro Guimarães Advogados.
Apesar do alto grau de exigência, era um profissional justo e meticuloso. Até mesmo previsível, segundo o amigo e gerente administrativo do escritório, Wilson Paganotto, 65. "Trabalhar com o Maurício era muito fácil. Ele sabia exatamente o que queria e o que esperar de você. Não tinha variação de caráter. A gente diz que era alguém que sustentava em pé o que dizia sentado."
O trabalho metódico e exigente levou Maurício a criar marcas no direito do trabalho. Ele foi um dos fundadores da Associação de Advogados Trabalhistas de São Paulo, e tinha assento na Academia Paulista de Direito do Trabalho. Foi curador do Tribunal de Ética e Disciplina da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil e marcava presença anualmente em listas de advogados de destaque.
A fama de sisudo chegou até entre os filhos Gustavo Granadeiro Guimarães, 53, do casamento com Maria Christina Werneck de Aguiar, 78, e Rafaela Antoniazzi, 40, sua enteada. Eles conheciam outro lado do advogado, apesar de se admirarem com a elegância e o cavalheirismo do pai.
"Era também uma pessoa muito carinhosa e tinha suas coisas engraçadas que não apareciam no escritório. Tinha uma mania de trocar as palavras e me ensinava muitos poemas", diz Rafaela.
Além do gosto por vinhos e viagens, Maurício também gostava de reunir a família em casa para ouvir modas antigas de viola. "Nos reuníamos eu, meu marido, que também gosta de músicas antigas, e ele, para ouvir seresta, sambas antigos e música clássica."
Mesmo já com a audição debilitada, Maurício podia aparentar estar cochilando ou apenas parado, mas aproveitava a função bluetooth do aparelho para continuar a ouvir suas músicas favoritas. Também manteve sua organização impecável, que ia até as gavetas do armário. Todas as roupas eram separadas por categoria e cor.
Leitor ávido, Maurício não deixou de carregar um livro debaixo do braço nem no hospital, quando a leucemia já o havia obrigado a deixar as pistas de corrida, nas quais fez provas com os filhos e amigos. Ele morreu em 1º de junho, aos 80 anos, em decorrência da doença. Ele deixa a mulher, Maria da Penha Cordeiro Santos, 72, os filhos e cinco netos.