Mortes: Psicanalista, viveu e ensinou a liberdade em ritmo de rock e reggae

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Nos últimos anos da adolescência, na Argentina, Oscar Angel Cesarotto trabalhou durante alguns meses em um hotel para juntar dinheiro para realizar um sonho: viajar para a Inglaterra. Era fim dos anos 1960 e ele aproveitou a viagem para conhecer mais do rock, em shows como da banda norte-americana Jefferson Airplane. Para o espanto dos pais, com quem morava na época, ele simplesmente juntou o dinheiro e anunciou a viagem poucos dias antes do embarque.

Esse gosto pela liberdade, além da paixão pelo rock, o acompanhou durante toda a vida. Anos depois, o reggae iria se somar a suas paixões musicais. E, assim como buscou o rock em uma viagem para a Inglaterra, aventurou-se nas décadas seguintes para a Jamaica, a fim de conhecer mais do ritmo musical caribenho.

Quando terminou o curso de psicologia, na Universidade de Buenos Aires, a ditadura militar fazia vítimas na Argentina. Diante do clima de repressão, optou por se mudar para o Brasil, onde o processo de "abertura lenta e gradual" começava a dar seus primeiros passos.

Já casado e com duas filhas, decidiu trocar de país quando tinha dois anos de formado. O convite para ir a São Paulo veio de amigos que havia conhecido em congressos internacionais de psicologia. Fixou-se definitivamente na capital paulista a partir de então, voltando praticamente todos os anos a Buenos Aires para visitar seus pais e amigos,

Trabalhou na educação infantil, mantinha sua clínica e dava aulas na Escola Freudiana de São Paulo e no Centro de Estudos de Psicologia e Psicanálise. Da psicologia clínica, passou para o campo da comunicação e semiótica, área em que desenvolveu seu doutorado.

Em seguida, passou a dar aulas na Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão (Cogeae), da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e na USP (Universidade de São Paulo). Em ambas instituições orientou alunos de mestrado e doutorado.

Além de livros publicados nas áreas de psicanálise e de semiótica, escreveu também ficção, o caso da novela "Verão da Lata", criado a partir da história real de um navio que abandonou uma carga de latas com maconha na costa brasileira no final dos anos 1980.

Morto em 11 de abril, ao 75, não conseguiu ir ao último show que planejava ver, do cantor Alice Cooper, em São Paulo. Deixa a mulher, Marta, o filho Yuri e as filhas Teresa e Romina, gêmeas, que voltaram a viver na Argentina.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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