Mortes: Viu na política e na construção coletiva os pilares para uma vida

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Mauricleia Soares dos Santos, ou Mauri, como era conhecida, viveu desde cedo em meio à dança, à música e à política. Herança da mãe, costureira, e do pai, funcionário da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que sempre enfatizou a importância da educação e da leitura, mesmo sendo analfabeto.

Nascida em Natal, envolveu-se cedo com movimentos sociais. Em virtude do racismo que sofreu na infância ou pelas desigualdades sociais que encontrava no dia a dia, viu na política e na construção coletiva os pilares que a sustentaram a vida toda.

No movimento estudantil, entrou em contato com o ideal da revolução socialista, assunto que, ao lado da igualdade racial, a fazia perder a paciência. Nesses tempos, também conheceu seu primeiro marido.

Acolhedora, Mauri mantinha ouvidos e casa sempre abertos. Sua filha Gabriela Freire conta que a casa vivia cheia de amigos da mãe, sempre cabia mais um. Os encontros eram embalados por MPB. "Tanto que, no momento da doença, a rede de apoio dela era tão grande que eu não conseguia dar conta. Eu fiz um calendário de visitas porque no primeiro dia de alta tinha dez pessoas em casa", conta ela.

Mauricleia formou-se em serviço social e fez mestrado na área. Foi professora universitária, assistente social, conselheira por quatro gestões do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo e por outras duas gestões no Conselho Federal de Serviço Social.

"No serviço social, a gente brinca que as pessoas são divididas entre quem foi supervisionado por Mauricleia e quem gostaria de ter sido", diz a amiga Kelly Melatti.

Mesmo vivendo em São Paulo desde 1992, nunca deixou de lado a cultura nordestina nem de visitar a família em Natal. "As idas à feira do Alecrim, os passeios nas praias, o comer fruta, o saber comer caranguejo. Caranguejo era comida de pobre antigamente", conta Gabriela, mencionando o uso do martelo para quebrar a casca do animal.

"Quando a minha avó fazia caranguejo para os filhos, quando crianças, ela falava para bater baixo se não os vizinhos iriam saber."

Mauri nunca aprendeu a cozinhar. Segundo a filha, tentou assar bolos na pandemia, mas "eram duros de fazer barulho." Mesmo com diagnóstico de câncer havia mais de um ano, não perdeu a vontade de viver e de ir a festas. "Quando ela vinha me visitar [no Rio de Janeiro], a gente ia para a Lapa e eu a largava lá, porque eu não conseguia acompanhar o ritmo dela", conta Gabriela.

Mauri morreu no dia 2 de abril, em São Paulo, aos 67 anos. Deixa os filhos Gabriela e Rene, três irmãos e muitos amigos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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