Nem todo mundo nasceu para desligar o computador às 18h

2 weeks ago 15

Li uma frase da Lucy Guo que me fez pensar. Lucy não é só uma jovem bilionária do Vale do Silício. Ela largou a faculdade, fundou a Scale AI, hoje avaliada em mais de US$ 13 bilhões, e acaba de ultrapassar Taylor Swift na lista da Forbes como a mulher mais jovem a se tornar bilionária por mérito próprio. E o que ela disse? "Se você sente necessidade de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, talvez esteja no emprego errado." A maioria torceu o nariz, mas eu aplaudi.

Porque eu entendo exatamente o que ela quis dizer. Também acordo antes do sol, treino, cuido das minhas filhas, resolvo pepinos de escola, entro em call enquanto faço escova, viajo, assino contrato, gravo, atendo gente, troco de roupa no carro e ainda apareço no palco com sorriso no rosto. Essa rotina maluca não é sacrifício, é entrega, é paixão, é gostar tanto do que faz que a exaustão vira parte da dança e não um motivo para desistir.

E antes que alguém diga: "mas agora é fácil falar", te conto que esse pensamento me acompanha desde os 17 anos, quando era atendente de telemarketing, servia em restaurante e fazia sobrancelha na sala da casa de clientes com uma maca emprestada. Sempre fui assim, sempre gostei de trabalhar, não porque alguém exigiu, mas porque eu me sentia viva.

O que a Lucy escancarou e incomoda tanta gente é o que poucos têm coragem de dizer: talvez o problema não seja o trabalho, talvez seja o fato de você estar no lugar errado. Porque quem ama o que faz não vive esperando o final de semana, não deseja fugir da segunda-feira e não conta os minutos pra desligar o computador.

Isso não é uma apologia ao burnout, é um alerta contra a romantização de uma vida profissional morninha, com salário médio, entrega média e ambição nenhuma, desde que caiba em oito horas por dia. O equilíbrio é saudável, mas quando ele se torna a única meta, a gente corre o risco de trocar a exaustão pela estagnação.

Não é todo mundo que vai amar trabalhar e tudo bem. Mas pare de deslegitimar quem ama, pare de achar que paixão é sinônimo de alienação, que dedicação é doença, que rotina intensa é vaidade. Existe uma diferença entre ser explorado e ser movido por um fogo interno e quem tem esse fogo reconhece logo quando vê outro queimando também.

Lucy Guo foi chamada de louca, de tóxica, de descolada da realidade. Talvez seja, porque é assim que tratam mulheres que performam acima da média. Querem que a gente vença, mas sem transpirar, que brilhe, mas não incomode, que conquiste mas só se for no tom certo, no turno certo, no tamanho certo.

Eu não compro essa régua. Se você me vir saindo de mais um evento às dez da noite, depois de uma jornada de 14 horas, saiba: não precisa perguntar se estou bem. Eu estou exatamente onde escolhi estar. Trabalhando muito, amando o que faço e sem vontade nenhuma de desligar o computador.

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