Novo estudo de equipe da Nasa não confirma sinal de vida no planeta K2-18b

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Em abril, uma equipe de cientistas da Universidade de Cambridge afirmou que um planeta orbitando uma estrela distante apresentava um possível indício de vida. O anúncio gerou um intenso debate entre astrônomos, com muitos deles céticos em relação ao que havia sido apresentado.

Passados alguns meses, uma equipe liderada pela Nasa conduziu novas observações de K2-18b, que está a 124 anos-luz da Terra. O resultado fornece uma imagem mais clara do exoplaneta —como são chamados os planetas fora do Sistema Solar—, confirmando a presença de água, talvez até mesmo como um oceano líquido.

No estudo original, a equipe de Cambridge afirmou que K2-18b parecia ter um gás em sua atmosfera que, na Terra, é produzido somente por seres vivos. O trabalho da agência espacial americana, porém, não encontrou fortes evidências para esse gás.

A equipe da Nasa argumenta ainda que, mesmo se o gás estivesse em K2-18b, ele poderia ter se formado por meio de mera química.

O que antes parecia uma pista promissora de vida —uma bioassinatura— pode ser uma miragem.

"Uma conclusão importante é que as bioassinaturas serão difíceis de identificar, não importa de que tipo de planeta estejamos falando", disse o astrônomo Jacob Bean, da Universidade de Chicago (Estados Unidos), que não participou do estudo.

Os cientistas da Nasa, que trabalharam com o líder da equipe de Cambridge, publicaram seus resultados no último dia 16. Eles também submeteram o estudo a uma revista científica para publicação.

Planetas que orbitam outras estrelas são tão fracos que os astrônomos precisam reunir pistas sobre eles. Observa-se, por exemplo, como eles bloqueiam a luz de sua estrela ao passarem na frente dela.

Desde 2022, os astrônomos têm recorrido a um poderoso instrumento, o telescópio James Webb, para observar esses mundos distantes.

Em 2023 e 2024, uma equipe de pesquisadores liderada por Nikku Madhusudhan, de Cambridge, fez duas observações de K2-18b.

Eles utilizaram o telescópio para capturar a luz que veio do sol de K2-18b e depois atravessou a atmosfera do exoplaneta. Moléculas na atmosfera absorveram certos comprimentos de onda, criando mudanças sutis na luz estelar.

Em abril, Madhusudhan e seus colegas argumentaram que algumas dessas mudanças foram muito provavelmente causadas por um gás conhecido como dimetil sulfeto, ou DMS.

A Terra tem DMS em sua atmosfera. Mas aqui ele é produzido apenas por organismos vivos, como algas marinhas. A equipe de Cambridge sugeriu que K2-18b também poderia ter um oceano cheio de vida bombeando DMS para a atmosfera.

Em três análises separadas, outros pesquisadores contestaram essa afirmação. Eles argumentaram que um sinal que parecia ser DMS poderia ter sido só ruído sem significado ou talvez outra molécula sem relação com a presença de vida.

Todos os envolvidos no debate concordaram que mais observações de K2-18b ajudariam. Se o DMS estivesse de fato presente na atmosfera, seu sinal poderia se tornar mais forte com mais dados.

E esses dados estavam a caminho. Em 2024, uma equipe liderada por Renyu Hu, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, usou o telescópio para fazer quatro observações de K2-18b enquanto ele passava em frente a sua estrela.

Os pesquisadores então analisaram minuciosamente os resultados para determinar a composição química do exoplaneta. Nas últimas semanas, eles se uniram a Madhusudhan para examinar todas as observações de K2-18b feitas até agora, a fim de obter uma imagem ainda mais clara.

Em uma entrevista, Hu disse que alguns aspectos do exoplaneta estavam se tornando mais claros. "Agora podemos afirmar de forma conclusiva que o planeta tem não apenas metano em sua atmosfera, mas também dióxido de carbono."

Além disso, as observações revelam que até metade da massa de K2-18b é composta de água. "É um mundo bastante rico em água."

Hu e seus colegas não podem dizer exatamente em que forma essa água se encontra. Uma parte dela pode existir como gelo em um núcleo rochoso. E outra parte dela pode se movimentar na superfície como um oceano líquido.

Apesar dessa incerteza, Bean disse que o novo trabalho tornou K2-18b "um planeta empolgante, que abre as portas para o estudo de um ambiente de água líquida além do nosso Sistema Solar pela primeira vez".

Mas o novo estudo será uma decepção para qualquer um que esperava encontrar vida alienígena em K2-18b. "Nosso artigo não fornece nenhuma evidência conclusiva da existência de DMS", disse Hu. "Não acreditamos que tenhamos uma detecção."

Ainda é possível que K2-18b abrigue algum DMS, mas ele estaria em um nível baixo demais para ser detectado claramente.

Hu e seus colegas adicionaram ainda um novo elemento ao debate sobre DMS e extraterrestres. Em um planeta como K2-18b, eles argumentam, o DMS não é uma bioassinatura confiável.

As novas observações demonstram que a atmosfera de K2-18b é profundamente diferente da do nosso planeta. Para ver como os produtos químicos do exoplaneta podem reagir entre si, Hu e seus colegas criaram um modelo computacional da atmosfera. Nele, o exoplaneta não precisou de algas ou outros organismos para produzir DMS.

"Mesmo se estivesse lá", disse Bean, referindo-se ao DMS, "isso não significaria automaticamente vida".

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