O rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, 25, foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por tentativa de homicídio contra o delegado Moysés Santana Gomes e o oficial de cartório Alexandre Alves Ferraz, ambos da Polícia Civil, durante uma operação policial para cumprir mandado de apreensão de um adolescente que estaria escondido na casa do cantor, no Joá, zona oeste da capital.
Segundo a denúncia, no início da madrugada do dia 22, Oruam e outro denunciado, Willyam Matheus Vianna Rodrigues Vieira, 22, arremessaram pedras de grande porte contra os policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes e, dessa forma, assumiram o risco de matar os dois policiais, "por meio cruel e torpe".
Segundo o Ministério Público, o oficial de cartório sofreu ferimentos nas costas e no calcanhar esquerdo. Já o delegado se escondeu atrás de um carro da polícia para não ser atingido.
"Ambos tiveram que se esconder e desviar dos constantes arremessos, os quais persistiram com elevada intensidade e com clara intenção de atingi-los", diz trecho da denúncia assinada pelo promotor Eduardo Paes Fernandes.
Os policiais foram à casa de Oruam após receberem informações sobre o deslocamento do adolescente procurado ao local. Ficaram na área externa e, após cumprirem o mandado de busca e apreensão, foram atacados com pedras e xingamentos.
Segundo a denúncia, além de Oruam e Willyam, outras sete pessoas não identificadas participaram do ataque. O rapper e o amigo teriam ficado na varanda da casa e as outras pessoas nas janelas do imóvel, todos em posição elevada em relação à rua, onde os policiais estavam.
A investigação aponta que sete pedras foram lançadas e algumas atingiram Alexandre Alves Ferraz. Uma das pedras passou a poucos centímetros do rosto de Moysés Santana Gomes.
"Ambos passaram a desviar dos arremessos, os quais persistiram com elevada intensidade e com clara intenção de atingi-los, agravando significativamente o risco à vida dos agentes, que se encontravam sem qualquer equipamento de proteção, como coletes e capacetes", diz a denúncia.
O documento apresenta cálculos para mostrar que o impacto do arremesso de ao menos uma das pedras, de 4,8 quilos, tinha o potencial de causar as mortes dos policiais. As demais pedras eram menores e poderiam causar ferimentos de leves a moderados.
O próprio Oruam postou nas redes sociais vídeos em que aparece reagindo à abordagem policial. Segundo o Ministério Público, em um dos vídeos o cantor é flagrado arremessando pedras em direção às cabeças do delegado e do oficial de cartório.
Em outro vídeo, ele sugere que a polícia vá até o Complexo da Penha, que, segundo o documento do Ministério Público, é reduto do Comando Vermelho, "com histórico de resistência armada contra forças de segurança".
"Quero ver vocês virem aqui, pô, me pegar aqui dentro do Complexo. Não vai me pegar, sabe por que? Porque vocês peidam", teria dito o rapper, além de palavrões e de uma referência ao pai, Marcinho VP, preso em um presídio federal e apontado como líder do Comando Vermelho.
"Percebe-se que tais declarações possuem conteúdo de ameaça, incitação à violência e afronta direta à autoridade policial, além de indícios de ligação com organização criminosa armada, o que vem sendo devidamente investigado", diz a denúncia do Ministério Público.
A defesa do rapper disse ao G1 que ele não atentou contra a vida de ninguém e isso será esclarecido nos autos do processo. Também afirmou que ele se entregou às autoridades e que as ações policiais contra Oruam têm sido marcadas por violações de direitos.
A denúncia é acompanhada de pedido de prisão preventiva. Oruam, no entanto, está preso desde o dia 22, após se entregar à polícia, A Justiça decretou a prisão dele após os ataques aos agentes.
Ele foi levado para a penitenciária Serrano Neves, conhecida como Bangu 3, no Complexo de Gericinó, zona oeste do Rio. O presídio é destinado a integrantes do Comando Vermelho.
O rapper foi classificado com grau alto de periculosidade —o segundo nível em uma escala de quatro. A classificação consta na guia de recolhimento da Polinter, da Polícia Civil, unidade responsável pelo registro da prisão.