Dezenas de milhões de pessoas nos Estados Unidos sofrem de apneia obstrutiva do sono, uma condição que ocorre quando os músculos da garganta se estreitam durante o sono, levando a pausas temporárias na respiração que podem fazer as pessoas roncarem e acordarem sobressaltadas, com falta de ar.
Dormir mal pode deixar as pessoas exaustas, irritadas e sem foco durante o dia. E, se não tratada, a apneia do sono pode aumentar o risco de doenças graves, como pressão alta, diabetes tipo 2, ataque cardíaco e derrame.
Durante décadas, o principal tratamento para a apneia do sono tem sido a pressão positiva contínua nas vias aéreas (ou CPAP). Antes de dormir, as pessoas com a condição colocam uma máscara facial conectada a um aparelho de CPAP, que mantém as vias aéreas abertas, forçando o ar para dentro delas. Os aparelhos são eficazes, mas muitos os consideram tão barulhentos, incômodos ou desconfortáveis que acabam abandonando-os.
Agora, uma opção mais atraente pode estar a caminho, de acordo com um comunicado da Apnimed, empresa farmacêutica focada no tratamento da apneia do sono. Na semana passada, foi anunciado uma segunda rodada de resultados positivos de um ensaio clínico para um comprimido inédito que pode ser tomado antes de dormir para ajudar a manter as vias aéreas desobstruídas.
Os resultados completos ainda não foram divulgados ou publicados em um periódico revisado por pares. Mas as descobertas se baseiam em conclusões anteriores, igualmente positivas, de ensaios e estudos. Especialistas em sono afirmam que o que estão observando nos relatórios até agora os leva a crer que a pílula pode ser um divisor de águas.
Médica do sono e pesquisadora da Northwestern Medicine, Phyllis Zee, que não participou do estudo, diz que, se aprovado, o medicamento pode transformar a vida de muitas pessoas. Isso inclui não apenas aqueles que não toleram máquinas de CPAP, mas também aqueles que não podem —ou preferem não— usar outras intervenções, como outros tipos de dispositivos orais ou medicamentos para perda de peso. (O excesso de peso é um fator de risco para apneia do sono.)
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Como funciona o novo medicamento?
Pesquisador do sono da Universidade de Pittsburgh que liderou o novo estudo, Sanjay R. Patel descreve tentar respirar através de uma via aérea contraída como tomar refrigerante com um canudo de papel encharcado.
"Se o canudo estiver muito mole, quando você chupar, você vai fechar as paredes e não vai conseguir tirar o refrigerante", afirma ele.
A nova pílula, chamada AD109, é uma combinação de atomoxetina e aroxibutinina, dois medicamentos que dizem ao seu cérebro para manter os músculos das vias aéreas ativados durante a noite, deixando o caminho respiratório livre.
Os medicamentos "essencialmente enganam os músculos, fazendo-os pensar que estão acordados", afirma Daniel Combs, professor associado de pediatria e medicina na Universidade do Arizona, que não estava envolvido na pesquisa, mas está estudando um medicamento semelhante ao AD109.
O novo estudo incluiu 660 adultos com apneia do sono que não toleravam máquinas de CPAP ou se recusavam a usá-las. De acordo com o comunicado da Apnimed, o AD109 reduziu significativamente o número médio de interrupções respiratórias por hora nos participantes que tomaram a pílula, em comparação com aqueles que receberam placebo.
Alguns participantes que tomaram a pílula relataram efeitos colaterais, incluindo boca seca e insônia, afirma Larry Miller, diretor executivo da Apnimed. Mas a empresa não publicou dados detalhados sobre esses efeitos colaterais. Segundo Miller, apenas 3% dos pacientes que tomaram AD109 apresentaram insônia significativa o suficiente para interromper o uso do medicamento.
A Apnimed planeja compartilhar os dados completos, incluindo a eficácia da pílula na redução do ronco, em outubro, diz Miller. Ele acrescentou que a empresa pretende buscar a aprovação da FDA (Food and Drug Administration) no início de 2026.
Miller afirma estar otimista de que os resultados dos testes clínicos apoiariam a aprovação do FDA, mas não está claro se ou quando isso acontecerá, especialmente devido às mudanças recentes na agência.
A pílula poderia substituir outros tratamentos para apneia do sono?
Quando usados corretamente, os aparelhos de CPAP são atualmente a opção mais eficaz para o tratamento da apneia do sono. E muitas pessoas se acostumam a eles, especialmente depois que os dispositivos começam a melhorar a qualidade do sono. Mas, para aqueles que resistem ao uso dos dispositivos, a pílula pode ser uma alternativa eficaz.
Em última análise, quanto mais opções de tratamento, melhor, explica Zee. Seja usando um aparelho de CPAP, um comprimido ou qualquer outro método, tratar a apneia do sono pode melhorar "praticamente tudo", completa Combs.
Um de seus estudos favoritos, ele disse, foi um pequeno de 2013 que descobriu que golfistas que tratavam sua apneia do sono com uma máquina CPAP tendiam a ter um desempenho melhor no jogo —o que implicava que eles ficavam mais descansados. "Faz uma grande diferença", diz Combs.