Dois policiais civis de São Paulo e um advogado foram denunciados sob acusação de corrupção e vazamento de informações sigilosas, entre outros delitos, nesta sexta-feira (18). As investigações do caso apontaram que houve arquivamento irregular de procedimentos policiais, repasse clandestino de informações protegidas por sigilo e apresentação de documentos falsos para a restituição de bens apreendidos.
A denúncia é resultado da Operação Agusta, realizada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo e pela Polícia Federal. Segundo os promotores, os policiais favoreceram ilegalmente pessoas investigadas por crimes, mediante pagamento de propina.
Os denunciados são os investigadores Sérgio Ricardo Ribeiro e Marcelo Marques de Souza (conhecido como Marcelo Bombom) e o advogado Anderson dos Santos Domingues. Bombom já estava preso desde fevereiro, sob acusação de integrar o grupo de policiais civis que extorquia dinheiro do empresário e delator Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, morto no aeroporto de Guarulhos.
Ribeiro foi preso na deflagração da operação, há cerca de três semanas. O advogado teve o pedido de prisão preventiva negado pela Justiça, e responde em liberdade.
Procurado, o advogado de Marcelo Bombom afirmou que "sua defesa será feita no âmbito da ação penal ora proposta pelo MPSP" e que sua inocência será provada. O advogado Domingues afirmou que não vai se pronunciar sobre as acusações.
A reportagem enviou pedido de posicionamento à defesa de Ribeiro na manhã deste sábado, por e-mail, mas não recebeu resposta até a publicação.
A investigação envolveu também o empresário e piloto da Copa Truck Roberval de Andrade. Segundo a investigação, ele pagou propina aos policiais para que um helicóptero de sua propriedade, apreendido numa operação de combate ao tráfico de drogas e armas, fosse liberado e devolvido.
O Gaeco firmou um acordo de não persecução penal com Roberval. Nele, o piloto confessa o crime de corrupção, se compromete a entregar provas de pagamento de propinas e concorda com pagamento de uma multa de R$ 600 mil e a perda do helicóptero. Ele ainda deve ser investigado por suspeitas de corrupção que são paralelas a este caso.
O inquérito contra o grupo teve início a partir da quebra do sigilo telemático no telefone celular de Bombom, apreendido durante operação que investigou as denúncias que Gritzbach fez a autoridades antes de ser assassinado com tiros de fuzil no aeroporto.
A análise no celular do policial mostrou conversas dele com o investigador Sérgio Ribeiro, do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico), em que eles tratam de acordos para beneficiar amigos de Bombom.
Um desses amigos era o empresário e piloto Roberval. As mensagens indicam que ele teria pagado R$ 700 mil para que a Polícia Civil liberasse um helicóptero modelo Agusta AW109, de propriedade de Roberval.
A aeronave havia sido apreendida em abril de 2022. Roberval foi comunicado da devolução do helicóptero pelo próprio Bombom, em setembro daquele ano. Mensagens de áudio, trocadas entre os policiais civis nos anos de 2022 e 2023, falam em tomar dinheiro e em acordo para "melhorar a situação" de investigados.
A análise no celular do policial também apontou que os pagamentos tinham intermediação do advogado Anderson dos Santos Domingues. Ele e Bombom conversaram, também em mensagens de áudio, sobre pagamentos de comissão —segundo a investigação, ele recebeu dinheiro por intermediar a liberação do helicóptero.
Domingues já foi alvo de outra operação da Polícia Federal contra a facção PCC, a Mafiusi, que apontou um suposto esquema de tráfico internacional de cocaína por meio do porto de Paranaguá (PR) e de lavagem de dinheiro. Um filho do policial Bombom trabalhava no escritório de Domingues, segundo a investigação.
Mensagens obtidas pela investigação indicam, ainda, que Rodrigues e Bombom teriam recebido R$ 10 mil para deixar de fazer procedimentos básicos de investigação para beneficiar um empresário. O inquérito estava sob responsabilidade de Rodrigues, e o empresário seria amigo de Bombom, aponta a apuração.
Além disso, os dois policiais teriam compartilhado dados financeiros sigilosos com o advogado Domingues, arriscando atrapalhar investigações.
Promotores pediram a prisão de Domingues à Justiça estadual, que entendeu que havia indícios de que ele tenha praticado falsificação de documento, mas não o suficiente para afirmar que ele participou de outros crimes investigados. Foi autorizada a busca e apreensão nos endereços ligados ao advogado, mas não a prisão.