Se for aprovada, proposta orçamentária de Trump eliminará missões da Nasa

1 month ago 8

A proposta de orçamento do governo Donald Trump para 2026, se for aprovada pelo Congresso, acabará com muitos dos planos da Nasa para exploração robótica do Sistema Solar. Também eliminará múltiplas missões para estudar a Terra, o Sol e o resto do Universo.

Entre os planetas que receberão menos atenção estão Vênus, Marte e Júpiter. Mas o que sofrerá a maior redução de observação a partir do espaço é a própria Terra. A proposta da gestão federal prevê a redução de 53% do financiamento para ciências voltadas ao nosso planeta.

Também será cancelada uma missão que examinaria de perto Apophis, um asteroide gigante que passará a 32 mil quilômetros da Terra —mais próximo que os satélites geoestacionários— em 13 de abril de 2029.

O Escritório de Gestão e Orçamento da Casa Branca afirmou em seu pedido que o gasto atual da Nasa de mais de US$ 7 bilhões por ano em quase cem missões científicas é insustentável.

"O orçamento fornece US$ 3,9 bilhões [para a diretoria científica da Nasa], apoiando um programa científico mais enxuto e focado que reflete o compromisso da administração com a responsabilidade fiscal", afirma o pedido de orçamento.

A Sociedade Planetária, um grupo de defesa sem fins lucrativos para a ciência espacial, estima que 41 missões atuais ou planejadas, aproximadamente um terço do portfólio da Nasa, serão encerradas se a proposta de Trump for aprovada. O orçamento de Trump prejudicará ainda a força de trabalho da Nasa, provocando a perda de milhares de postos.

O Congresso tem poder sobre o orçamento e pode salvar missões. O Comitê de Comércio, Espaço e Transporte do Senado, presidido pelo Senador Ted Cruz, tenta proteger grande parte do financiamento da Nasa, mas está preocupado principalmente em salvar o programa Artemis. Na última quinta-feira (5), o comitê propôs restaurar bilhões de dólares para projetos da Nasa.

Aqui estão algumas das missões em perigo:

Veritas

Vênus, segundo planeta a partir do Sol, é praticamente do mesmo tamanho que a Terra e bilhões de anos atrás pode ter sido um mundo propício para o surgimento da vida. Hoje, é um lugar infernal, afetado pelos efeitos de um efeito estufa descontrolado. A comunidade científica quer entender as forças por trás dessa metamorfose.

A sonda Veritas, da Nasa, com lançamento programado para 2031, foi projetada para orbitar o planeta e produzir, segundo a agência, "mapas de radar incrivelmente detalhados da superfície de Vênus".

Davinci

A espaçonave Davinci, com lançamento programado para 2029, foi projetada para voar perto do topo das nuvens de Vênus e lançar uma sonda em direção à superfície.

De acordo com a Nasa, "depois que a sonda percorrer metade do caminho até a superfície, o paraquedas será ejetado; neste ponto, a atmosfera de Vênus se torna tão densa, 90 vezes mais espessa que a da Terra, que a sonda desacelerará naturalmente, assentando-se como uma pedra na água". Os cientistas esperam que a sonda forneça imagens de perto da superfície do planeta.

PoLSIR

O Radiômetro de Nuvens de Gelo Submilimétrico Polarizado é uma missão modesta (US$ 37 milhões), não incluindo custos de lançamento).

A ideia é dois pequenos satélites orbitem o globo para "ajudar a humanidade a compreender melhor a atmosfera dinâmica da Terra e seu impacto no clima, estudando as nuvens de gelo que se formam em grandes altitudes por todas as regiões tropicais e subtropicais".

Rosalind Franklin/Moma

A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) planeja enviar um rover a Marte, com ajuda dos EUA. Segundo a Nasa, o programa de astrobiologia da agência "contribuiu com recursos para auxiliar no desenvolvimento científico, de engenharia e técnico do rover ExoMars Rosalind Franklin", nomeado em homenagem à química britânica que forneceu evidências cruciais sobre a estrutura do DNA. "A participação da Nasa inclui o fornecimento de elementos críticos para o instrumento de astrobiologia do rover, o Analisador de Moléculas Orgânicas de Marte (Moma)".

Chandra

O Observatório de Raios-X Chandra pode ver seu orçamento cair de US$ 69 milhões para zero. A proposta de Trump pede uma redução de dois terços no financiamento para astrofísica.

A Nasa está se preparando para lançar o Telescópio Espacial Nancy Grace Roman em dois anos, e a proposta orçamentária de Trump fornece algum financiamento para essa missão, embora menor do que o planejado anteriormente.

O Observatório de Mundos Habitáveis, concebido como o próximo grande telescópio espacial, pode receber um financiamento mínimo.

Maven

O orbitador de Evolução de Atmosfera e Voláteis de Marte tem estudado a atmosfera superior do planeta desde 2014. O financiamento para a coleta contínua de dados e análise será encerrado, caso a proposta orçamentária de Trump vingue.

A nave espacial circularia Marte sem produzir ciência. Mas, sem monitoramento da Terra, ela poderia perder funcionalidade e, se sua órbita se degradar, poderia cair na superfície, de acordo com Bruce Jakosky, cientista sênior da Universidade do Colorado e investigador principal emérito da missão.

Jakosky disse que o orçamento proposto por Trump é devastador para o portfólio científico da Nasa e não ajudará a agência a colocar humanos em Marte.

"O cancelamento de missões em andamento a Marte e do retorno de amostras de Marte elimina esforços importantes para entender as condições ambientais que os astronautas enfrentarão, para compreender Marte como um planeta e para preparar a ciência para missões humanas", afirmou Jakosky em um email.

Osiris-Apex

A missão Osiris-Rex da Nasa coletou amostras do asteroide Bennu, que cruza a órbita da Terra, para estudá-las em laboratórios terrestres. A nave continua em operação, e a agência designou-lhe uma missão legada, chamada Osiris-Apex, sigla para origens, interpretação espectral, identificação de recursos e segurança-explorador de Apophis.

O objetivo é estudar as mudanças induzidas pela gravidade no asteroide Apophis quando ele passar muito perto da Terra daqui a quatro anos. Se o financiamento for encerrado, como Trump propõe, a nave espacial orbitará o Sol indefinidamente sem gerar nenhum resultado científico.

Lisa

A Antena Espacial de Interferômetro a Laser é uma missão conjunta proposta com a Agência Espacial Europeia (ESA) para estudar ondas gravitacionais. Três naves espaciais vão formar um triângulo equilátero a aproximadamente 1,6 milhão de quilômetros de distância entre si. A ideia é que funcionem como uma única antena, capaz de detectar ondas de comprimento muito longo no espaço-tempo causadas pela colisão de buracos negros e estrelas de nêutrons. De acordo com a Nasa, "estudar ondas gravitacionais oferece um enorme potencial para descobrir partes do Universo que são invisíveis por outros meios, como buracos negros, o Big Bang e outros objetos ainda desconhecidos". A contribuição dos EUA seria encerrada.

Retorno de Amostras de Marte

A ambiciosa missão, concebida em parceria com a Europa, tem sofrido atrasos, estouros de orçamento e desafios técnicos significativos. O administrador da Nasa no governo Joe Biden, Bill Nelson, disse que o cronograma da missão é inaceitável, e a agência pediu à indústria privada ideias para trazer de volta amostras já obtidas pelo rover Perseverance. A proposta orçamentária de Trump não destina nenhum recursos para o projeto.

Voyager

As espaçonaves gêmeas, lançadas em 1977 e conhecidas por produzirem imagens impressionantes do Sistema Solar externo, são os objetos mais distantes já enviados ao espaço pelos humanos.

A Voyager 1 está a mais de 24 bilhões de quilômetros da Terra e a Voyager 2, a mais de 20 bilhões de quilômetros, colocando-as além da heliopausa, onde o "vento solar" de partículas que fluem do Sol termina.

O orçamento proposto por Trump reduz o financiamento da Voyager de US$ 7,8 milhões para US$ 5 milhões em 2026 e para os dois anos seguintes, depois cai para zero em 2029.

Em algum momento, o término do financiamento estava destinado a acontecer, porque as sondas estão ficando sem energia, metaforicamente. As espaçonaves são alimentadas pelo decaimento radioativo do plutônio-238. Essa energia está diminuindo, e a Nasa foi forçada a desligar alguns dos instrumentos científicos.

Ainda assim, eles continuam a estudar as partículas e radiação no espaço interestelar, ciência que não é facilmente replicada. Telescópios e modelagem computacional não conseguem fazer o que as Voyagers fizeram ao ir até lá.

Esses cortes projetados para as missões de ciência espacial da Nasa não são definitivos. Legisladores podem defender missões que afetam seus estados e distritos de origem.

O Comitê de Comércio do Senado espera proteger o orçamento da Nasa, que a Casa Branca havia proposto cortar em quase um quarto. A maior parte do financiamento apoiado pelo Senado seria destinada a voos espaciais tripulados, não à ciência.

O comitê iria, por exemplo, estender a vida útil do foguete Space Launch System (SLS), da Nasa, que a Casa Branca havia proposto cancelar após o pouso lunar Artemis 3, programado para 2027. A proposta do Senado também preservaria recursos para o Gateway, uma estação espacial que voaria em órbita lunar.

Pessoas familiarizadas com o esforço para adicionar dinheiro ao orçamento da Nasa disseram que não veem resistência da Casa Branca —em parte devido ao súbito desentendimento de Trump com Elon Musk. O cancelamento do SLS poderia beneficiar significativamente a SpaceX, de Musk, que está desenvolvendo o Starship.

Quaisquer recursos da Nasa que fluam para empresas de orientação comercial beneficiariam não apenas o empreendimento de Musk, mas também a Blue Origin, de Jeff Bezos —proprietário do jornal The Washington Post.

A proposta orçamentária de Trump prevê um bilhão de dólares em novos fundos para exploração humana relacionada a Marte. Isso inclui financiamento para "testar capacidades para um módulo de pouso marciano de classe humana em curto prazo". O dinheiro também seria destinado ao desenvolvimento de trajes espaciais adaptados para a vida em Marte.

Isso fica aquém do tipo de mudança estratégica drástica, da Lua para Marte, que parecia possível quando Musk começou a fazer campanha regularmente com Trump e ambos expressaram o desejo de uma missão ao planeta dentro de alguns anos.

Qualquer missão a Marte enfrentaria enormes desafios técnicos e orçamentários. A Nasa nunca pousou lá uma carga útil que pese mais do que um carro pequeno. O planeta vermelho tem apenas cerca de um por cento da densidade atmosférica da Terra, notoriamente fina demais para ajudar a desacelerar um veículo em entrada, mas espessa o suficiente para causar problemas.

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