O ano de 2025 não tem sido fácil para o programa Starship, da SpaceX. A empresa, que esperava fazer um novo lançamento do maior foguete do mundo em 29 de junho, viu o segundo estágio do veículo explodir numa plataforma de teste em Starbase, Texas, na madrugada da última quinta-feira (19).
A explosão aconteceu pouco antes de um teste estático dos motores, em que eles são disparados por alguns segundos com o foguete preso ao solo a fim de verificar seu bom funcionamento. Costuma ser uma das últimas etapas antes do empilhamento dos estágios e o lançamento.
O acidente, registrado e transmitido ao vivo de forma espetacular por câmeras de entusiastas da SpaceX que monitoram as atividades de Starbase em tempo real, não feriu ninguém, e os danos ficaram limitados à própria infraestrutura da empresa. Contudo, a falha representa um novo desafio para o desenvolvimento do Starship, que, depois de um 2024 espetacular e surpreendente, começa a empilhar problemas de engenharia que precisam ser resolvidos.
Segundo Elon Musk, dono e projetista-chefe da SpaceX, a explosão de quinta-feira (noite de quarta pela hora local) provavelmente foi causada pela falha de um tanque de nitrogênio de alta pressão instalado na área de carga do foguete. É basicamente um sistema usado para manter a pressão interna dos diversos compartimentos do veículo. Por sinal, uma falha desse tipo foi a responsável, em 2016, pelo último fracasso de um Falcon 9, o principal lançador da SpaceX em operação. Desde então, o foguete já realizou centenas de lançamentos bem-sucedidos.
Não há razão para crer que o mesmo acontecerá com o Starship. Mas não tão rápido. Com esta falha, o programa já acumula quatro explosões desde janeiro, três delas em voo, por três problemas diferentes. Os dois primeiros, envolvendo excesso de vibração e a falha de um dos motores, aparentemente foram resolvidos no lançamento mais recente, realizado em maio, que no entanto trouxe um novo problema: um vazamento de combustível que fez a empresa perder o controle do veículo no espaço.
Com a nova explosão, a SpaceX não tem mais um Starship para lançar em junho; e, mesmo que tivesse, a empresa não teria (ao menos temporariamente) uma plataforma para fazer as checagens pré-voo. Isso significa que um próximo lançamento vai demorar. Quanto? Difícil estimar.
Os atrasos, embora não inesperados em um programa dessa complexidade, colocam em xeque a capacidade da Nasa de realizar a missão Artemis 3, que tem por objetivo levar astronautas à superfície da Lua pela primeira vez no século 21. A SpaceX está contratada por US$ 3,9 bilhões para a iniciativa, que tem lançamento marcado para 2027. Mas, antes disso, será preciso que a empresa demonstre a reutilização dos dois estágios do Starship, o reabastecimento em órbita da nave e a capacidade de pouso e decolagem na Lua. É díficil encontrar quem acredite que vai ser possível fazer tudo isso em mais dois anos.
Esse inevitável atraso não seria tão preocupante se os EUA não estivessem numa corrida com a China pela primeira alunissagem tripulada. Os chineses, com um programa mais conservador (que lembra o antigo Apollo), esperam chegar lá em 2029.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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