O suspeito de realizar ao menos 18 ataques a ônibus na região metropolitana de São Paulo alegou motivação política ao confessar os crimes durante depoimento a agentes do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de São Bernardo do Campo. As informações são da Polícia Civil.
Edson Aparecido Campolongo, 68, era motorista concursado da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) há 30 anos e trabalhava para um chefe de gabinete do órgão sob o comando da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Em seu perfil no Facebook, Campolongo fez diversas postagens com críticas ao governo do presidente Lula, ao PT e às decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Segundo o delegado Júlio César de Almeida, responsável pela investigação, ele afirmou algumas vezes que sua intenção era mobilizar pessoas para mudar o país.
Ele disse não ser filiado a partido ou organização política, segundo o delegado.
Procurada, a CDHU não havia comentado até a publicação deste texto. A reportagem não conseguiu contato com a defesa do suspeito.
Para o secretário-executivo de Segurança Pública, Osvaldo Nico Gonçalves, não é possível afirmar que o suspeito tenha falado a verdade sobre sua motivação.
Uma autoridade que participa das investigações, por outro lado, disse que há cuidado em não propagar a motivação política do suspeito para, justamente, evitar que ele alcance seu objetivo de motivar mais pessoas a aderiram às depredações.
O efeito manada é uma das preocupações, porque já estaria em curso. Desde que a onde de ataques teve início, em junho, 22 suspeitos foram detidos e em geral não apresentaram motivações específicas, reforçando a tese dos investigadores de que estariam imitando ações que viram pelo noticiário.
Segundo a polícia, a CDHU colaborou para a identificação e localização do suspeito. Campolongo chegou a usar o carro do órgão para o qual trabalhava para praticar parte dos ataques, segundo a investigação, que usou monitoramento por câmeras para chegar ao automóvel.
Os ataques ocorriam nos horários de folga do motorista, de acordo com informações preliminares.
Campolongo também confessou, ainda segundo a polícia, que teve a ajuda do irmão dele, o desempregado Sérgio Aparecido Campolongo, 56, para realizar alguns dos ataques.
Após ser identificado e intimado, ele compareceu de forma espontânea à delegacia em São Bernardo do Campo.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que o suspeito foi preso, mas a informação foi negada nesta terça-feira (22) pelo delegado Almeida.
Segundo Almeida, pedidos de prisão foram expedidos, mas até a tarde desta terça as ordens não haviam sido efetuadas.
Há divergências sobre a quantidade de ônibus que os irmãos teriam atacado. Almeida afirmou que foram 18, mas outros números foram apresentados durante a entrevista coletiva realizada nesta terça na sede da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Almeida, que conduziu os interrogatórios, afirmou que Campolongo apresentava dificuldades em contar de forma coerente suas motivações.