Terapias não medicamentosas são decisivas no pós-diagnóstico de doenças crônicas

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Tratamentos biomédicos não são suficientes para atender pessoas diagnosticadas com doenças crônicas como obesidade ou Alzheimer, segundo especialistas que participaram de seminário da Folha sobre o tema, realizado nesta quinta-feira (17). Redes de suporte compostas por famílias, pelo sistema de saúde público e por entidades da sociedade civil podem contribuir para garantir cuidados integrais a esses pacientes.

Presente no segundo painel do evento, Elaine Mateus, presidente da Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz), afirmou que doenças neurodegenerativas levam a uma reorganização das dinâmicas familiares não só pela necessidade de cuidados de longo prazo, mas também porque alteram o relacionamento com quem recebeu o diagnóstico.

Caberia às famílias, integradas ao sistema de saúde e à sociedade civil, buscar manter a pessoa ativa e independente pelo maior tempo possível, de acordo com ela, que também é cofundadora do Instituto Não Me Esqueças e ex-professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

"A bala de prata está em terapias não medicamentosas que, somadas às terapias medicamentosas, dão expectativa de vida e esperança", disse. "Existem alguns tratamentos que não são modificadores do curso da doença [de Alzheimer], mas ajudam; e outros que vão interferir nas alterações de comportamento."

Como exemplo de cuidados não clínicos, Mateus citou um projeto do instituto do qual é vice-presidente, em Londrina, dedicado a 130 famílias com alguma pessoa diagnosticada com Alzheimer. Cada uma delas recebe um atendimento diário acompanhada por algum familiar, que também é assistido pelo projeto.

O suporte a quem cuida de pessoas com demência, em sua maioria mulheres, é fundamental para evitar um efeito dominó que possa acabar sobrecarregando o sistema de saúde, já que frequentemente essas cuidadoras apresentam sintomas de depressão, obesidade e hipertensão, acrescentou a presidente da Febraz.

Outras iniciativas de sucesso relacionadas ao tema foram lembradas pelo geriatra Leandro Minozzo, especialista em Alzheimer e outras demências, como a lei 14.878/2024, que institui a Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Doença de Alzheimer e Outras Demências. Segundo o médico, o próximo passo é colocá-la em prática.

No Rio Grande do Sul, entidades puseram de pé um Plano Estadual de Cuidado Integral e Demência (Pecid), aprovado através de uma lei de 2022 e que tem entre seus projetos o lançamento de ambulatórios voltados a idosos com fragilidade e pessoas com demência localizados em diferentes regiões do estado.

A mesa também discutiu cuidados com pessoas com obesidade. Chefe da Liga de Obesidade Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a endocrinologista Maria Edna de Melo defendeu um atendimento mais humano para a população que vive com a doença

"Na maioria das vezes, o paciente recebe o diagnóstico e o tratamento é ‘Perca 20 quilogramas e volte aqui para melhorar o seu joelho’. Isso não é uma conversa, é humilhação."

Além de melhorias na capacitação dos profissionais, Adriana Martins, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP), afirmou que ainda faltam aspectos básicos de estrutura nas unidades de saúde. "Existem salas de cirurgia que não atendem obesos", disse.

Melo, da FMUSP, também criticou lacunas na priorização do modelo do sistema de saúde que não têm a ver diretamente com problemas no financiamento. "Tem município que faz cirurgia robótica para obesidade, mas não tem o polivitamínico [suplementação importante no pós-operatório de bariátricas devido a alterações no sistema digestivo]."

Realizado no hotel Hilton São Paulo Morumbi, o seminário foi mediado pela repórter especial de saúde da Folha Cláudia Collucci e teve o patrocínio da farmacêutica Lilly.


Assista abaixo à íntegra do seminário Limitações das Políticas Públicas para Doenças Crônicas

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