Há cerca de 15 anos, criei a categoria epistêmica de inteligentinho para descrever um certo tipo de ator social caracterizado por emitir opiniões risíveis sobre as coisas, mas acompanhadas de muito glitter com cores das feiras literárias, a partir de seu repertório restrito sobre o mundo, mas afinado com palavras, temas e posições políticas da moda nas universidades, Redações da imprensa, produtoras de audiovisual, consultórios psicanalíticos e escolas de artes.
Quando se reúnem para jantar, estabelecem o laço social que descrevi como sendo um jantar inteligente. Meu objetivo hoje é investigar qual o perfil temático dos jantares inteligentes em 2025. Vejamos.
Inteligentinhos, quando se encontram, só discutem questões "top". Neste processo, fazem todos os diagnósticos possíveis acerca do mundo, seus prognósticos e soluções, sempre movidos por um padrão altíssimo de retidão ética consigo mesmo e com os outros —claro que esse padrão está mais para o "self-marketing" do que para qualquer prática de virtude intelectual.
Daí nasce o halo de santidade que paira no ar quando inteligentinhos se reúnem em restaurantes ou na casa de um deles. O que chama a atenção nesses ambientes é a unanimidade absoluta das ideias e a condenação absoluta daqueles "estrangeiros" que não partilham do mesmo conjunto unânime de pensamento deles.
No campo da política internacional não há dissonâncias. Trump é um lixo e o partido democrata americano é a melhor solução para os Estados Unidos e o mundo, mesmo que elejam um prefeito socialista para Nova York, que muito provavelmente destruirá a cidade, entregando-a na mão dos criminosos devido à paixão incontrolável que a esquerda tem por bandidos —no Brasil também demonstram tal paixão.
Em matéria de guerras, analisemos o caso do Oriente Médio e da Guerra da Ucrânia. Na primeira, a paixão pelo Hamas é absoluta. Israel, claro, é sempre culpado por ser um país de judeus ricos e imperialistas —um dado chocante, segundo as pesquisas inscritas na série histórica, é o surgimento da "moda antissemita" entre eles, mesmo quando se trata de inteligentinhos judeus. Às vezes, até perece que há mesmo um concurso informal para ver quem pode escrever ou falar a frase mais antissemita na mídia.
Diante da guerra entre Israel e Irã, mesmo inteligentinhos LGBTQIAPN+, objeto de perseguição sumária no Irã, e inteligentinhas, todos choram de amor pela bandeira iraniana e juram amor eterno ao governo dos aiatolás. A esquerda ficou incapaz desde que foi tomada pelos inteligentinhos.
O caso da Ucrânia é mais complicado. Eles não conseguem identificar quem é o bonzinho e quem é o mauzinho do ponto de vista mal-informado deles. Além disso, os inteligentinhos guardam uma certa nostalgia do "experimento soviético" e, por isso, confundem Rússia do século 21 com União Soviética do século 20. Por isso, nutrem um tesão secreto pelo Putin.
A Ucrânia foi invadida e isso poderia indicar imperialismo —palavra que eles adoram. Mas Estados Unidos e Israel podem ser imperialistas; a Rússia, pátria de Trótski, jamais! Ficam confusos e preferem voltar a atacar o "inimigo sionista".
Em política nacional, não melhora muito. Regular as redes! Sonham com o dia em que nas redes só se falará o que eles acham lindo e certo, como toda criança. Todos que não pensam igual terão suas vidas arruinadas por juízes que eles amam.
Nunca vi tanto tesão pela censura como hoje, principalmente entre os profissionais da palavra pública, infelizmente muito colonizada por inteligentinhos.
Quanto ao governo, a lealdade canina ao Lula e sua claque impede que consigamos escapar da dicotomia Lula x Bolsonaro que arruína a vida política brasileira.
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Outro assunto que os apaixona é, como disse acima, a paixão pelos bandidos. Mesmo que as pessoas comuns estejam morrendo de medo dos bandidos, os inteligentinhos não conseguem se mover do amor intransitivo pelos criminosos —um amor alimentado por algum tipo de foucaultismo prêt-à-porter. No horizonte, se movem na direção a favor da transformação do país num narcoestado.
Todo o espaço intelectual público —do jornalismo à academia, da produção audiovisual à publicidade e o marketing, das artes à educação, dos profissionais da saúde mental às casas editoriais e livrarias—, em sua imensa maioria, é colonizado pela comunidade inteligentinha.
A rigor, não há quase nenhuma competência instalada no país que possa fazer frente ao enxame em que eles se transformaram nos últimos anos. Perderam completamente a vergonha de destruir todos que não são da patota.