Mortes: Defensor do SUS, dedicou décadas à saúde pública

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Qualquer pessoa que começasse uma conversa sobre saúde pública com o pediatra Luiz Alberto da Silva ouvia uma defesa apaixonada, mas realista, do SUS (Sistema Único de Saúde). "Na concepção, é o melhor do mundo, elogiado por todos, mas na prática ainda está engatinhando", dizia.

Não poderia ser diferente para quem ostentava a marca de funcionário mais antigo da Prefeitura de Santo André, com 56 anos de serviço prestados à saúde da cidade.

Sua trajetória começou em São Sepé, no Rio Grande do Sul, em 1938. Filho de um agricultor, viveu no campo com os pais e os irmãos. Quando menino, acompanhava o pai na vistoria das plantações de arroz. E estudava, o que o levou a almejar a faculdade de medicina. Formou-se em Santa Maria (RS) em 1963 e fez residência no Hospital Darcy Vargas, em São Paulo.

Foi em um consultório médico em Santa Maria, ao voltar para a cidade, que conheceu o amor de sua vida, Soila. Ela havia levado uma afilhada para ser avaliada pelo então doutor Luiz Alberto. A paixão foi avassaladora, como os dois contavam.

Casaram-se em 1969 e mudaram-se para São Paulo, onde o pediatra começou a trabalhar na Faisa (Fundação de Assistência à Infância de Santo André), instituição sem fins lucrativos incorporada nos anos 1990 pela prefeitura da cidade.

A trajetória na saúde incluiu ainda anos na gestão pública, atendimentos à população nos postos municipais, plantões em hospitais da região e aulas de pediatria na Fundação Santo André. Também era um dos fundadores da Sociedade Paulista de Pediatria. Seu último posto foi na regulação da Secretaria da Saúde, onde atuou até os últimos dias, e estava engajado em políticas para a população idosa.

Além da medicina, amava a literatura, em especial a poesia. Sempre voltava aos poemas de Mário Quintana, Pablo Neruda e Prado Veppo, poeta gaúcho e seu amigo, quase irmão, morto em 1999. Grifava versos e frases nos livros que mais gostava ("Cansei de amor de brinquedo/Eu quero amor de verdade", de Veppo) e passava horas em seu escritório ouvindo música gaúcha, lendo e, nos últimos anos, navegando em redes sociais.

O coração de torcedor se dividia entre o Internacional, do seu Rio Grande do Sul, e o Palmeiras, embora nos últimos anos pendesse mais para o lado alviverde.

Há um ano e meio, ficou viúvo. Buscou abrandar a falta da esposa com passeios, viagens, aulas de geografia (se não fosse médico, seria geógrafo, dizia), cursos e degustações de vinho, outra de suas paixões.

Morreu no dia 8 de julho, aos 87 anos, de influenza, em São Paulo. Deixa as filhas Hanuska e Natacha, os genros, a irmã Ziza, sobrinhos e muitos amigos, colegas, ex-alunos e ex-pacientes.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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