Mãe Elda de Oxóssi ensinava que o maracatu é um candomblé no meio da rua. A yalorixá foi guardiã da Nação Porto Rico, um dos maracatus mais tradicionais do Recife, fundado em 1916. Também sua rainha, única coroada dentro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Sua coroação, em 1980, foi a última realizada em uma igreja católica, antes da proibição do clero.
Elda foi a responsável por muitas mudanças nos maracatus. Criou o personagem soldado romano, em homenagem a Ogum, e a primeira calunga de pano. Colocou mais brilho nas fantasias da corte, saias de armação e passou a usar as peças de costas, como das escolas de samba.
Com o grupo de baque virado, viajou em turnês pelo Brasil e Europa. Fazia questão de levar o conhecimento ancestral. Nas apresentações, cantava as histórias dos orixás.
Nascida na comunidade Mangabeira, do bairro Casa Amarela, em 1939, Elda Ivo Viana foi criada em um lar evangélico. Frequentou a Assembleia de Deus até os 14 anos e fazia parte do coral.
Como muitas meninas da época, casou-se cedo, aos 15 anos. Acompanhando o primeiro marido, foi morar em São Cristóvão (RJ), onde teve o primeiro encontro com religião de matriz africana, na umbanda. Sua fé também se estendeu pelo candomblé, nagô, angola e gegê.
De volta ao Recife, após se separar, retomou os estudos. Enquanto isso, trabalhou cozinhando em um corredor de quartos de aluguel e montava barraca em feiras típicas. Depois, comprou o imóvel e foi no seu quintal que fundou o terreiro Ylê Oxossi Guongobira.
Formou-se professora e foi concursada do estado, função na qual se aposentou. Mãe de quatro filhos, criou dezenas de crianças de sua nação e acreditava na educação dentro dos terreiros.
A filha de Oxóssi com Iansã e Xangô tinha personalidade forte. "Era aquela mulher que diz que na casa dela quem manda é ela. Minha mãe não levava recado para casa", afirma o mestre Chacon, 56.
Era também conhecida como de grande coração. No Pina, onde morou nos seus últimos anos, casou e curou muita gente. Nos dias sem sessão no terreiro, usava como espaço de alfabetização. Ensinou crianças e também adultos, como pescadores e marisqueiras.
Também formou grupos de dança, coroou rainhas e ajudou a formar outros maracatus.
Mãe Elda convivia com Alzheimer. Após dias internada em um hospital da capital pernambucana, morreu por falência múltipla dos órgãos no dia 12 de maio, aos 76 anos.
Deixa três filhos. Edileusa, 65, a Mãe Leu, ficou yalorixá da casa. Jailton de Xangô Alafim, 62, é o Pai Jará. E Jailson, 56, o Mestre Chacon, é o babalorixá. "A gente segue o legado da nossa grande matriarca", diz Chacon.
Também ficam dez netos e cinco bisnetos.