Kardé Mourão, como gostava de ser chamada, formou-se em jornalismo pela então Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFBA (Universidade Federal da Bahia), em 1981. Ela construiu uma carreira moldada pelo compromisso com a valorização profissional.
Destacou-se como assessora de imprensa de diversas entidades sindicais, incluindo a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Em 1985, integrou a comissão da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) que criou o primeiro manual de assessoria de imprensa do país.
Presidiu o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) de 2004 a 2010 e, em 2019, articulou o movimento Começar de Novo, para revitalizar a entidade.
Kardé teve participação ativa em debates importantes para o jornalismo brasileiro. Uma de suas principais lutas foi a defesa do diploma de jornalista como exigência ao exercício profissional.
"Kardé era uma pessoa extremamente ética, defensora dos princípios básicos e do bom jornalismo", afirmou Moacy Neves, atual presidente do Sinjorba, acrescentando que ela emprestou seu profissionalismo para melhorar a comunicação dos sindicatos dos trabalhadores.
A sindicalista, segunda filha de uma família de cinco irmãos, não tinha medo da vida, conta a irmã Verbena Mourão. "No momento da luta, nunca recuou".
Neves também lembra que Kardé era como uma mãe, sempre pronta para ouvir, aconselhar e apoiar. Tornou-se referência para a geração de jornalistas da qual ele, com 55 anos, faz parte.
Além dos filhos do jornalismo, Kardé era mãe de Arthur, 40. Ele conta que a mãe, ariana, tinha personalidade forte e defendia a autonomia das escolhas. "Não sou batizado porque minha mãe decidiu que eu teria que escolher minha religião quando tivesse maturidade."
Kardé nasceu em Alagoinhas (BA), em um orfanato kardecista, e foi registrada e cresceu em Salvador. Seu nome tem relação com a religião espírita, que seguia. Também devota de Iansã e Santa Bárbara, era uma mulher de fé.
"A casa de minha mãe é um santuário. Para quitá-la, ela fez promessa a São Pedro e a Santa Bárbara e, quando conseguiu, colocou um azulejo para cada santo dentro de casa", diz Arthur.
Fanática pelo Esporte Clube Bahia, influenciou o neto, Heitor, 4, a torcer pelo time. Gostava de artesanato e fazia estandartes, muitas vezes ligados a Santa Bárbara, para se distrair e presentear.
Ela desenvolveu um quadro de depressão durante a pandemia e relutava em buscar cuidados médicos. Em outubro de 2024, foi diagnosticada com câncer. Dizia que estava com uma ferida e seria curada.
Kardé passou por uma cirurgia em novembro, mas não resistiu à quimioterapia. Morreu aos 65 anos, em 29 de março, em Salvador. Deixa a mãe, Maria de Lourdes, o filho, Arthur, e o neto, Heitor, além de irmãos, sobrinhos, amigos e colegas que cruzaram o seu caminho.