Onde estão as pessoas com deficiência intelectual no Brasil?

1 day ago 3

Assisti recentemente a um programa de TV em que um atendente de uma loja de jogos online era um rapaz engraçado, com poucas falas, mas com muita presença de cena. Ele era um ator com uma deficiência intelectual, algo raríssimo, mas totalmente possível.

O último dado do Censo do IBGE revelou que 1,4% dos brasileiros, algo como 2,6 milhões de pessoas, tem uma condição diferente de tratar questões do dia a dia, de resolver tarefas e de interagir com o conhecimento. O mito que se perpetua é o de que são seres incapazes e de total dependência.

É só puxar pela memória que todo o mundo vai se lembrar de um primo com síndrome de Down muito queridão, do filho de um amigo com paralisa cerebral avançada que batalha por conquistas, de uma garotinha da rua que parece meio lelé, mas é totalmente sabida.

Por outro lado, o que se vê em sociedade é uma ausência quase absoluta dessas diferenças humanas, tremendamente excluídas, estereotipadas e cercadas por preconceitos, sendo um dos mais comuns deles achar que esses viventes não têm noção de suas próprias condições.

E são variados os fatores desse ocultamento da deficiência intelectual, o mais grave deles é a tutela irrestrita que persiste e se pratica sobre o grupo. Reconhecer a necessidade de cuidado e atenção mais próximos, não pode se misturar com ações de exclusão, de apartamento de convívio em nome da proteção.

Num país de miseráveis, também não é exagero afirmar que a manutenção irrestrita de uma pessoa com deficiência intelectual em microcosmos garante o pagamento de benefícios que, às vezes, mantém uma família.

Aos poucos, quebra-se a resistência da presença do povo meio "tchube" na escola, embora os botões do "não sabemos lidar" sigam sendo disparados como álibi de deixá-los do lado de fora, como se não fosse o ambiente escolar aquele onde justamente o conhecimento deve aflorar em suas múltiplas possibilidades.

No trabalho, o eco da falta desse grupo social é brutal, mesmo com diversas iniciativas mostrando que é viável, sim, para a diferença intelectual compor um grupo laboral. A presença desse marcador em fábricas, escritórios, negócios e comércios é resultado certo para quem persegue propósito e transformação.

Motores inclusivos históricos, os esportes e a cultura têm se sofisticado em suas maneiras de dar protagonismo às diferenças intelectuais. No lugar da presença apenas lúdica ou recreacional, já existem competições e produções muito bem elaboradas e pensadas para exaltam potenciais das condições de intelectualidade diversa.

As Olimpíadas Especiais Brasil, por exemplo, é uma organização que vem movimentado o cenário de maneira efetiva, com competições em escala mundial tendo pessoas com deficiência intelectual como atores principais. Atuam na autoestima, na exploração de talentos, no espírito de competitividade, na presença em todos os lugares.

Até o próximo dia 20 deste mês, a entidade puxa a "Semana Global da Inclusão", com o mote #escolhaincluir. Concordo com eles. Termos mais diversidade em nossas experiências é uma escolha. Não fazê-la, porém, leva vidas ao indigesto lugar da alienação e a todos nós à involução.

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