A Prefeitura do Rio de Janeiro realizou ajustes nas linhas de ônibus e diminui em 20% a oferta de veículos fora dos horários de pico.
A Secretaria municipal de Transportes disse que a alteração ocorreu após identificar desequilíbrio entre a quantidade de coletivos que circula na cidade e a demanda real de passageiros. Segundo a gestão Eduardo Paes (PSD), havia linhas que operavam com veículos quase vazios nos períodos entre 9h e 15h e após às 20h.
A pasta afirma que não haverá redução dos ônibus, mas um ajuste nos horários, e prevê uma economia de R$ 200 milhões em um ano, resultado da diminuição no valor de subsídio às empresas, calculado a partir do quilômetro rodado.
Do outro lado, representantes de empresas de ônibus dizem que a decisão da prefeitura foi tomada para justificar corte no subsídio, e que a diminuição da frota pode gerar demissões.
Em 2022, a gestão Paes, os consórcios de ônibus e a Promotoria do Rio de Janeiro assinaram um acordo para o município subsidiar a operação viária. Um dos itens do texto estabelece que a prefeitura pague a diferença por quilômetro rodado entre a tarifa municipal, de R$ 4,70, e a calculada como ideal para as empresas, de R$ 6,50.
No mesmo acordo, o município passou a ter acesso às quilometragens por meio de GPS, e as linhas que não cumprem o número mínimo de viagem e circulação não recebem o subsídio.
A Secretaria de Transportes calcula repassar R$ 1 bilhão por ano de subsídio às empresas.
A chefe da pasta, Maína Celidônio, afirmou que a criação do Jaé, sistema de bilhetagem digital implementado pela prefeitura há um mês, tem gerado dados melhores, em tempo real, sobre o número de passageiros por hora em cada linha.
"Conseguimos identificar horários em que precisávamos de mais ônibus e horários em que estava sobrando lugares. Havia linhas em que ofertávamos 400 lugares para dez pessoas andarem. Havia gorduras, principalmente nos horários de entrepico e no horário da noite", afirmou ela.
Os ônibus que circulam na madrugada, segundo ela, não terão oferta reduzida.
"Isso não vai prejudicar o passageiro. Ninguém vai pegar um ônibus superlotado. Não tem redução no horário de pico."
Sob reserva, um representante de empresas de ônibus afirmou à reportagem que, na prática, a mudança pode gerar diminuição na frota, se as viações entenderem que há ônibus de sobra. Ainda segundo o interlocutor, isso pode gerar demissão de funcionários.
A cidade do Rio tem cerca de 4.000 ônibus em circulação, 18 mil funcionários e 28 empresas em operação, dez delas em recuperação judicial. Os dados são do Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus.
Até 2010, o município tinha 47 empresas, e até 2020 o número de veículos passava de 5.000. Durante a pandemia, considerado período de maior crise financeira do sistema, a frota caiu para 2.600 ônibus.
Implementado por Paes em julho, o Jaé é o sistema de pagamento nos ônibus, BRT, VLT e vans. O uso na catraca pode ser através de cartão ou QR Code no aplicativo. A diferença para o Riocard, o sistema já existente, é que o Jaé é gerido pela prefeitura, enquanto o Riocard é estadual, sob administração da Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro).
O sistema da prefeitura, por enquanto, só é aceito em transportes municipais —modais como metrô e trem aceitam somente o Riocard.
Negociações com o governo estadual estão em andamento, não sem consequência política: no último dia 11, o Procon e a secretaria estadual de Defesa do Consumidor, do governo Cláudio Castro (PL), multaram em R$ 12 milhões a empresa responsável pela emissão do cartão, por suposta falta de informação sobre o serviço.
A implementação do Jaé acontece com contratempos, como filas de pessoas com mais de 60 anos em postos da prefeitura para buscar o cartão —o bilhete passou a ser obrigatório para gratuidades a partir do dia 4 de julho.