Saiba como funcionam os vestibulares do IME e ITA e o que fazer para passar

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Engenharia de ponta, ensino gratuito, prestígio e empregabilidade quase garantida. Os vestibulares do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e do IME (Instituto Militar de Engenharia) são o sonho de milhares de estudantes que disputam, todos os anos, algumas das formações mais concorridas do país. Mas os processos seletivos estão entre os mais difíceis e exigem mais do que excelência em exatas.

A preparação se assemelha a uma jornada de trabalho, com muitas horas de estudo, desempenho alto e sustentado por anos. Os candidatos precisam dominar disciplinas cobradas com profundidade, treinar com simulados frequentes e lidar com a frustração de não passar nas primeiras tentativas.

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Segundo os coordenadores ouvidos pela Folha, a maioria dos aprovados consegue a vaga apenas na segunda, terceira ou até quarta tentativa. "É um processo longo, que cobra constância, motivação e inteligência emocional", afirma Henrique Bessa, supervisor das turmas IME/ITA do cursinho Farias Brito, em Fortaleza.

'Robson Junior, coordenador da turma ITA do Poliedro Curso, diz que o desafio vai além da aptidão para exatas. "A gente recebe vários alunos que eram os melhores da escola, do bairro, da cidade. Quando você coloca os melhores juntos, a competição aumenta". De acordo com ele, é no cursinho que muitos percebem que não são mais os melhores "e aí vem o teste emocional".

"Não existe fórmula mágica", diz o general Juraci Galdino, comandante do IME. "Cada candidato deve estudar de acordo com seu perfil." Segundo ele, o curso é rigoroso, mas dá retorno. "Temos uma taxa de evasão baixa, de cerca de 5%, o que mostra que o estudante chega bem preparado e se adapta."

Nos últimos anos, o número de candidatos no IME tem se mantido estável, em torno de 4.500. No ITA, as inscrições vêm subindo: foram 9.076 em 2024 e 9.781 em 2025, para 180 vagas.

A seguir, veja como funcionam os dois processos seletivos, as diferenças entre eles e as principais dicas de especialistas e vestibulandos.

COMO SÃO AS PROVAS

IME

O processo tem duas fases. A primeira é uma prova objetiva com 40 questões de matemática, física e química. Só segue quem tirar nota global acima de 5 e acertar pelo menos 40% em cada disciplina. Na segunda fase, os candidatos fazem provas discursivas das três matérias, além de português, inglês e redação. É preciso tirar no mínimo 4 em cada uma.

Em seguida, há exames médicos, avaliação psicológica e o teste de aptidão física, com corrida de 12 minutos, flexões e abdominais. O índice histórico de aprovação é de cerca de 15%.

ITA

São três fases: prova objetiva (70 questões), discursivas (das mesmas disciplinas) e, por fim, inspeção de saúde e avaliação psicológica. Desde 2023, candidatos reprovados na inspeção médica podem solicitar dispensa e cursar como civis, com aval do Comando da Aeronáutica.

O QUE DIFERENCIA ITA E IME DE OUTROS VESTIBULARES

Os dois concursos cobram apenas matemática, física, química, português, inglês e redação. Com esse recorte, as provas conseguem aprofundar os conteúdos.

"Eles cobrem as matérias vistas no ensino médio, mas em questões altamente complexas. São temas que só aparecem em olimpíadas ou no início da graduação", explica Robson.

DIFERENÇAS ENTRE CIVIS E MILITARES

No ITA, todos entram como militares e fazem o CPOR (Curso Preparatório de Oficiais da Reserva) no primeiro ano. A decisão sobre seguir ou não carreira na Aeronáutica ocorre ao final do segundo ano. Quem permanece recebe bolsa, alojamento e assistência médica.

No IME, a escolha entre ativa (militar) e reserva (civil) é feita na inscrição. Os da ativa seguem formação militar durante os cinco anos; os da reserva, apenas no primeiro. A escolha da especialidade de engenharia ocorre no terceiro ano, conforme o desempenho.

O QUE TORNA A FORMAÇÃO DIFERENTE

.As duas instituições têm currículos exigentes, corpo docente altamente qualificado e infraestrutura avançada. O ITA oferece oito especialidades, como aeroespacial, computação e mecatrônica. O IME, com sede no Rio de Janeiro, tem dez especialidades. Se o aluno for reprovado em uma disciplina, a matrícula é trancada, e ele precisa refazer todas as matérias daquele período no ano seguinte —uma segunda reprovação leva ao desligamento. Apesar do rigor, a evasão é baixa, em torno de 5%, segundo o general Galdino.

Ambos incentivam a pesquisa e a inovação. O ITA organiza o "ITA Challenge", competição com empresas. O IME promove a "Operação Ricardo Franco", que leva formandos para projetos na Amazônia.

PERFIL DOS CANDIDATOS

A maioria dos candidatos é homem, jovem e oriundo de escola particular. Muitos descobrem os exames no ensino médio, por influência de professores ou redes sociais.

Segundo Robson, muitos se deparam com exercícios marcados como "IME" ou "ITA" em livros e se sentem atraídos pelo desafio.

A ROTINA DE ESTUDOS

Os alunos ouvidos pela Folha disseram dedicar a maioria do tempo do dia para estudos. Nixon Santos, 19, faz o cursinho do Poliedro e estuda quase 14h por dia. "Atualmente, eu entro na aula às 13h40 e saio às 21h20. O tempo para estudar é de manhã. Acordo umas 6h30, tomo café, banho e começo a estudar umas 7h30.

No Farias Brito, os alunos têm 42 horas de aula por semana, além de simulados e estudo individual. A carga é comparável à dos cursinhos para medicina na USP, mas com foco exclusivo em exatas. "É comum os alunos acordarem às 6h, aula até 13h, atividades à tarde e estudar até 23h", diz Bessa.

APOIO PSICOLÓGICO

A pressão emocional é forte. Os cursinhos oferecem suporte com psicólogos e atividades extracurriculares. "É um dos pontos mais sensíveis", afirma Robson. "O aluno precisa construir confiança e lidar com a frustração."

Bessa ressalta a importância de manter o equilíbrio. "A vida continua acontecendo durante a preparação."

Um dos momentos mais delicados é quando colegas passam e o aluno não. "Isso afeta, e muito. É preciso ajudar o estudante a seguir motivado", diz Robson.

ETAPAS FÍSICAS E INSPEÇÕES

O exame físico é exigido apenas no IME, e só para quem opta pela carreira militar. Segundo Robson, com cerca de um mês de treino é possível atingir os índices.

O ITA não exige teste físico. A inspeção médica é obrigatória para todos, mas civis podem solicitar dispensa se forem reprovados.

CARREIRA APÓS A GRADUAÇÃO

No ITA, cerca de 75% dos formados seguem carreira civil. A empregabilidade é próxima de 100%, com atuação em tecnologia, bancos, consultorias e indústria aeroespacial. Os salários iniciais estão entre os mais altos do país, segundo a instituição.

No IME, muitos optam pela carreira militar. "O curso forma engenheiros e oficiais do Exército", afirma o general Galdino. Os militares recebem salário, assistência médica e podem alcançar o generalato. Atualmente, o soldo dos formandos é de R$ 8.816,00 e, com as gratificações, o salário bruto de um formando da ativa do IME chega a aproximadamente R$ 12 mil.

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