Casaco feito de cobertor vira escudo contra o frio para população de rua em SP

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A sequência de ondas de frio que atingem parte do país deixa a população de rua em situação de extrema vulnerabilidade. Neste inverno, a temperatura mínima chegou a 5,9°C no início da manhã na cidade de São Paulo.

Ações como a distribuição de cobertores, realizada pela prefeitura e por entidades de assistência, se tornaram indispensáveis nesta época. Mas uma iniciativa na zona leste de São Paulo oferece uma alternativa que favorece a mobilidade dos moradores e pode ser usada também para aquecer quem trabalha durante a noite.

São casacos feitos de cobertores produzidos pelo projeto Dona Vera Vest, criado por Fernando de Carvalho, conhecido como Nego Tinho. O nome da iniciativa é inspirado na mãe dele.

A peça no estilo sobretudo possui botões e alças que transformam a roupa em uma bolsa, beneficiando também as pessoas em situação de rua que precisam transportar seus pertences diariamente pela cidade.

O sobretudo é produzido com um cobertor de tecido durável e que agride menos o meio ambiente devido à qualidade e à resistência, segundo os criadores.

"Isso é roupa para seres humanos, independente de classe social ou situação que está vivendo", diz. A linha de roupas ganhou o nome de "Sobre Tudo, Sobre Vida".

A iniciativa possui uma campanha online para arrecadação de doações, com o intuito de realizar a confecção das peças e manter a distribuição ativa. Já foram doados mais de mil casacos em toda cidade desde o início do projeto, em 2019.

A produção de cada casaco custa em média R$ 80, levando em consideração todo o material usado e a mão de obra empregada. A confecção é realizada através de parcerias com costureiras locais, fato que também mobiliza a economia do bairro.

Nego Tinho nasceu na Vila Flávia, em São Mateus, e é um dos fundadores do coletivo São Mateus em Movimento, que surgiu há 18 anos no bairro.

A entidade tem o intuito de produzir arte e cultura para a população local. Atualmente, o projeto oferece oficinas de produção musical, artes visuais, além de palestras e um cursinho pré-vestibular.

Cofundador do projeto, Fernando Macário, destaca que a proteção "como escudo" e o aspecto rústico da peça favorecem a aceitação. "Se fosse algo muito refinado talvez as pessoas não gostassem tanto", comenta.

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Milton Ferreira, comerciante e morador de São Mateus há 40 anos, possui o sobretudo há mais de um ano e diz que a peça é sua defesa durante os dias mais gelados. "Geralmente eu uso mais na madrugada. Caiu a temperatura eu me protejo com o sobretudo", conta.

Futuramente, o projeto planeja produzir peças infantis e linha pet.

Segundo o último censo divulgado pela prefeitura de São Paulo, a capital paulista tinha em 2022 cerca de 32 mil pessoas em situação de rua, número 31% maior do que em 2019.

O distrito de São Mateus, conforme apontado pelo Mapa da Desigualdade de 2024, ocupa o 55º lugar entre 96 distritos da capital paulista nesse quesito.

"Sabemos que o frio de São Paulo mata pessoas", conta Thiago Silva, advogado, cria da favela da Divineia, na região, e parceiro na divulgação doDona Vera Vest.

Thiago atua também como presidente da Comissão de Políticas Públicas para Cidadãos em Situação de Rua dentro da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

"Para quem não tem mais nada e carrega a vida numa sacola, receber o sobretudo é algo que alegra o coração dessas pessoas."

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