Não é só por causa do inverno que os dias estão ficando mais curtos. Quando se trata do dia astronômico completo —uma única rotação do planeta Terra em que o ponteiro das horas se move duas vezes ao redor de um relógio padrão— alguns dos mais curtos deste ano estão acontecendo em julho e agosto.
Esta semana teve os dias mais curtos do ano até agora. De acordo com dados divulgados na sexta-feira (11) pelo Observatório Naval dos EUA e pelo Serviço Internacional de Rotação da Terra e Sistemas de Referência, a rotação de quarta-feira foi cerca de 1,34 milissegundos menor que 24 horas.
Mais voltas rápidas são esperadas ainda este mês e no início de agosto, segundo previsões do site Time and Date.
Isso não é completamente fora do comum: os giros do nosso planeta têm sido mais rápidos que o normal ultimamente. O dia médio encurtou principalmente na última década, e nos últimos cinco anos, aproximadamente, a rotação completa tem registrado um pouco menos de 24 horas com grande frequência. Fatores que impulsionam essa mudança incluem movimentos no núcleo da Terra, mudanças atmosféricas e a posição da lua.
Mas as tendências de longo prazo não sugerem que os dias encurtarão perpetuamente. Na verdade, é justamente o oposto. Por muitos milênios, os dias têm ficado mais longos. Um tiranossauro rex que viveu há 70 milhões de anos teria convivido com uma rotação diária média de cerca de 23 horas e meia, descobriram estudos.
Espera-se que a tendência de alongamento continue, disse Clark R. Wilson, professor no Centro de Pesquisa Espacial da Universidade do Texas em Austin, embora o processo seja tão lento que está "bem além das escalas de tempo humanas".
A principal razão tem a ver com a energia perdida pelas marés. A atração gravitacional da lua é responsável pelas mudanças de maré na Terra. As correntes de maré aquecem o oceano muito ligeiramente, dissipando energia, o que desacelera a rotação da Terra e permite que a lua se afaste à medida que o tempo passa. (No momento, a taxa de afastamento é de cerca de 4 centímetros por ano.)
Ou, para colocar em termos de físicos, a lua e a Terra podem ser consideradas como um único sistema cujo momento angular total —uma medida de sua rotação— é constante. À medida que a lua expande sua órbita, e seu momento angular aumenta, o momento angular da Terra deve diminuir.
Portanto, os dias ficam mais longos.
Mas esse é um processo que leva bilhões de anos e é complicado por flutuações de curto prazo.
Séculos de dados mostram que a velocidade de rotação da Terra nunca foi constante. Houve períodos lentos, como o início dos anos 1990 ou 1970, quando a duração de um dia regularmente ultrapassava 24 horas em mais de 2 milissegundos. E houve períodos mais rápidos, como agora.
Muitos fatores dentro e acima da Terra impulsionam essas mudanças, e eles podem mudar de dia para dia ou de década para década. O movimento de materiais dentro da Terra, do núcleo para o manto até a crosta, pode afetar as velocidades de rotação. O clima e as mudanças climáticas de longo prazo também podem.
"É um problema extremamente difícil, desvendar os diferentes fatores contribuintes", disse Surendra Adhikari, um geofísico do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, a agência espacial norte-americana.
Juntos, eles criam uma espécie de padrão de interferência que explica por que a duração de um dia terrestre tem sido instável desde que os humanos foram capazes de medi-la.
Adhikari também contribuiu para pesquisas mostrando que as recentes mudanças climáticas provocadas pelo homem poderiam se tornar um fator-chave para dias mais longos. Quando o gelo derrete no mar, ele espalha água para longe dos polos e em direção ao Equador. Isso torna o planeta mais achatado, o que pode desacelerar sua rotação —assim como um patinador no gelo gira mais lentamente quando seus braços estão abertos, e mais rapidamente quando encolhe os braços.
"Todos esses efeitos interagem de maneiras complexas", disse Nick Stamatakos, chefe do Departamento de Orientação da Terra no Observatório Naval dos Estados Unidos. "E como a Terra é bastante grande e complexa, e as mudanças que precisamos medir são muito pequenas, nossa capacidade de prever o movimento da Terra é muito desafiadora."
Mas os dados do passado recente são claros o suficiente: a velocidade de rotação da Terra realmente aumentou nesta estação. E para aqueles no Hemisfério Norte, onde o verão acabou de começar, é um lembrete astronômico de que o tempo pode voar mesmo quando os dias de calor estão se arrastando.