Se você der uma maçã a um elefante, ele vai querer mais. Mas como ele pode se comunicar com os humanos que guardam essas frutas?
Após trabalharem com elefantes no Zimbábue, pesquisadores relataram que esses animais são capazes de fazer gestos para comunicar esse desejo. O estudo foi publicado na última quarta-feira (9) na revista Royal Society Open Science.
Há muito tempo, pesquisadores se perguntam se animais não humanos usam gestos. Isso porque os gestos podem revelar até que ponto os indivíduos estão cientes da atenção e do estado interno dos outros. Identificar criaturas que utilizam movimentos para provocar comportamentos em outros pode ajudar a revelar como e quando, na árvore genealógica da vida, a comunicação complexa evoluiu.
Muitos estudos sobre gestos focam primatas. Mas os elefantes são outro objeto natural para essa pesquisa porque vivem em grupos e têm vidas sociais elaboradas. Talvez eles também recorram a movimentos para se comunicar.
Para entender a pesquisa, pense em como os humanos fazem com que outros façam o que eles querem. Vesta Eleuteri, pesquisadora da Universidade de Viena e autora principal do estudo, explicou como ela poderia sinalizar não verbalmente a um amigo para passar-lhe uma garrafa de água.
"Primeiro verifico se você está olhando para mim", disse ela. "Se você estiver olhando para mim, eu posso apontar para a garrafa. [Após o sinal] espero você reagir. Se você não reagir, eu persisto. Posso alcançar a garrafa, posso acenar em direção à garrafa. Quando você me dá a garrafa, eu paro de gesticular."
Essas etapas —verificar se há uma audiência, sinalizar, continuar sinalizando de maneiras diferentes se o primeiro sinal não for compreendido e parar a sinalização uma vez que o objetivo seja alcançado— são todas características do uso intencional de gestos para induzir outros a agir.
Para ver o que os elefantes poderiam fazer em uma situação semelhante, pesquisadores ficaram na frente dos animais com duas bandejas. Uma estava vazia; a outra tinha seis maçãs — planos anteriores de usar melancias foram abandonados depois que os pesquisadores, após empurrar seis carrinhos de melões pelo caixa, consideraram-nos impraticáveis.
Quando não havia público humano, os elefantes não faziam gestos, algo semelhante ao observado em macacos em cativeiro em pesquisas anteriores. No entanto, quando os pesquisadores ficavam de frente para os animais, visivelmente prestando atenção, os elefantes começavam a se mover. Um deles, Moka, balançou sua tromba em direção às maçãs.
Outra vez, Moka estendeu sua tromba em direção ao experimentador.
Os pesquisadores responderam de maneiras diferentes. Às vezes, davam aos elefantes apenas três maçãs, deixando três na bandeja. Quando isso acontecia, Moka e outros elefantes persistiam em sinalizar, como fazem os primatas em cativeiro nesse cenário, balançando suas trombas.
No total, os pesquisadores identificaram 38 tipos de gestos que os elefantes usavam para esse tipo de sinalização.
Richard Byrne, que estuda a evolução da cognição na Universidade de St. Andrews em Edimburgo, Escócia, e não esteve envolvido no estudo, escreveu em um email que "não há dúvida de que os elefantes estavam usando seus gestos intencionalmente."
Ele acrescentou que os gestos são comparáveis aos estilos de comunicação de humanos e primatas, "nos quais os sinalizadores usam gestos para alcançar objetivos específicos manipulando públicos-alvo específicos".
Mas Byrne observou uma diferença significativa: quando os elefantes recebiam apenas uma bandeja vazia, eles não sinalizavam tanto quanto antes. Já grandes primatas teriam aumentado sua sinalização para as maçãs.
Essa discrepância entre primatas e elefantes sugere que os elefantes podem não ter compreendido o que estava acontecendo na mente dos pesquisadores que não lhes deram nada, segundo Byrne. Eles não redobraram seus esforços para fazer os humanos entenderem.
No entanto, os elefantes pareciam entender alguns sinais diferentes quando não recebiam nada, de acordo com Eleuteri.
Mickey Pardo, ecologista comportamental da Universidade Cornell (EUA) que não esteve envolvido no estudo, também observou esse fato como significativo.
Eleuteri disse que se pergunta se a resposta mais contida neste cenário pode ter resultado da forma como esses elefantes vivem. Eles vagam livremente em uma área turística durante o dia, mas passam as noites em um celeiro e foram ensinados a não pedir comida aos humanos. "Eles podem estar pensando, talvez eu não tenha permissão para pegar essas maçãs?", ela especulou.
Mais trabalho com animais selvagens será necessário, de acordo com Eleuteri. Atualmente, ela analisa vídeos de elefantes selvagens em contextos sociais para verificar como eles se influenciam mutuamente por meio do movimento. "Eles são muito complexos, socialmente."
É um projeto que levará muitos anos, mas ela espera que ajude a compreender como funcionam as mentes dessas criaturas, oferecendo pistas sobre como os movimentos corporais funcionam como comunicação.