Familiares de vítimas da violência policial se reuniram em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, na manhã desta quinta-feira (10), em apoio aos pais do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22.
Está prevista para esta tarde a primeira audiência de instrução do caso, que pode levar uma dupla de PMs a júri popular.
Acosta foi morto em 20 de novembro do ano passado com um tiro disparado pelo soldado Guilherme Augusto Macedo dentro de um hotel na Vila Mariana, zona sul da capital.
A ocorrência teve início após Acosta acertar um tapa no retrovisor da viatura em que estavam os soldados Macedo e Bruno Carvalho do Prado. O estudante, que estava na rua Conselheiro Rodrigues Alves, correu até um hotel na rua Cubatão, onde havia se hospedado momentos antes. Encurralado no imóvel, ele levou um tiro na barriga. A ação foi gravada por uma câmera da hospedaria e pelos equipamentos corporais dos PMs.
Os pais, médicos, se queixam da demora no socorro. Acosta morreu no Hospital Ipiranga, distante cerca de 5 km do local dos fatos.
"Eu quero que a sociedade entenda que a nossa luta não é contra o polícia ou o sistema, é uma luta contra as pessoas que estão deturpando a farda ou tomando a justiça com as mãos", disse Silvia Mónica Cárdenas Prado, 55.
"Nós acreditamos na sociedade, na Justiça, na polícia, mas não nos maus policiais", acrescentou.
Quem também acompanhou o ato foi diarista Joice Silva, 36. O filho dela, Guilherme Silva Guedes, 15, foi morto em junho de 2020, após ser sequestrado na Vila Clara, zona sul. Conforme a investigação da Polícia Civil, ele estava na porta da casa da avó quando foi levado por um policial militar, que estava de folga e trabalhava como segurança de um galpão na região, e um ex-PM, também vigilante.
A ação teria ocorrido como forma de exemplo a outros moradores responsáveis por invadir a área para acessar um mercado e furtar produtos.
Guedes, no entanto, nada tinha a ver com os assaltos.
O júri do ex-sargento Adriano Fernandes de Campos e do ex-soldado Gilberto Eric Rodrigues está previsto para ocorrer na próxima semana.
Campos foi demitido da PM após o caso. A demissão ocorreu por ele possuir uma empresa de segurança, o que não é permitido para PMs da ativa.
Rodrigues foi demitido anteriormente por um outro homicídio ocorrido anos antes. Em sua ficha há uma fuga do Presídio Militar Romão Gomes.
Ele está preso pelo homicídio anterior após ser capturado no litoral ao ser identificado seu envolvimento no homicídio de Guedes. Campos chegou a ficar detido, mas foi solto após ser absolvido pela morte do adolescente.
O Ministério Público recorreu da absolvição e ele será julgado novamente.
"Não acredito na Justiça do Brasil. Justiça era provar a inocência do meu filho e ele voltar, mas não volta mais", se queixou Joice.
"Vim dar apoio à mãe de Marco Aurélio. Juntas somos mais fortes. Guilherme gostava de cuidar de cachorros e moradores de rua. Minha vida é só casa. Me afastei de todo mundo. Já não tenho mais ânimo e pique para nada", completou.