A Prefeitura de São Paulo planeja uma série de ações no centro da cidade para os próximos anos. A principal medida é a construção de uma nova avenida para fazer uma nova ligação entre a região e a zona leste —o que pode permitir a desativação do elevado João Goulart, o Minhocão.
O nova via ganhou o apelido de "Faria Lima da zona leste" porque sua função será semelhante à da famosa avenida que passa pelas zonas oeste e sul da cidade.
"O objetivo dela é absorver o trânsito local, que geralmente acaba indo para marginal Tietê, da mesma forma como a as avenidas Brigadeiro Faria Lima e a Engenheiro Luís Carlos Berrini fazem com a marginal Pinheiros", explica Pedro Martin Fernandes, diretor-presidente da SP Urbanismo, órgão da prefeitura que lidera a iniciativa.
Pelo projeto, a nova avenida vai começar como um prolongamento da avenida Marquês de São Vicente, no Bom Retiro (no centro), até a avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé (zona leste). Esta é a parte prevista no atual plano de metas da gestão Ricardo Nunes (MDB).
O objetivo é fazer, nos anos seguintes, a ligação até a avenida Aricanduva. Uma solução semelhante deve ser feita nos anos seguintes na zona norte.
A ação faz parte de um projeto maior, de redução do fluxo de passagem pela região central da capital paulista. "É um aspecto importante para atrair mais moradores para esta parte da cidade", afirma Fernandes.
A nova via deve ajudar nos projetos de desativação do Minhocão. A área de pista de rodagem da nova via é de 111,6 mil metros quadrados, quase o dobro dos 58 mil metros quadrados do elevado, onde não há pista para transporte coletivo.
Segundo Fernandes, o principal uso do elevado é na ligação com a zona leste, o que seria transferido para a nova via. Mas a prefeitura ainda vai analisar se as outras ruas nas proximidades do Mihocão conseguem absorver o restante do fluxo, principalmente dos deslocamentos entre as zonas oeste e sul, entre a avenida São João e a rua da Consolação, por exemplo. Só depois disso é que o futuro do espaço será definido.
Apesar de estar a frente do projeto, Fernandes evita institucionalizar sua opinião sobre a demolição da via ou sua transformação em parque. "Acho que é algo que a população quem vai decidir."
A reorganização do trânsito no centro, segundo ele, passa também pelo projeto do VLT (veículo leve sobre trilhos), que deve mudar o transporte público na região. "A ideia é que existe uma redução no fluxo de ônibus na região, com a ligação dos terminais pelo VLT", explica. Assim, os ônibus da zona leste, por exemplo, não precisarão ir além do Parque Dom Pedro 2°, por exemplo. Os passageiros seguirão pelo outro modal para percorrer a região central.
Uma estação na rua Prates deve ser a conexão entre o sistema público e a nova avenida. Nela, ainda não está decidido se a opção de transporte público será um VLT ou um corredor de ônibus. Depende de uma análise do fluxo de usuários. Outra ligação importante será com o metrô, na futura estação Catumbi, da Linha 19.
O projeto básico e o licenciamento ambiental da obra devem ser divulgados nos próximos 15 dias. No mesmo prazo, devem sair as desapropriações dos imóveis que precisarão ser demolidos para a construção da via. "Uma das vantagens do traçado que fizemos é que conseguimos aproveitar terrenos públicos municipais e estaduais", diz Fernandes.
Do total, serão afetados 141 imóveis privados, além de 37 da prefeitura e outros 12 de estado e União. A construção deve aproveitar e alargar e prolongar vias já existentes, como as ruas Porto Seguro (Bom Retiro), Bom Jardim e Pedroso Silveira (Pari) e Jequitinhonha e Ulisses Cruz (Belém). A Vila Reencontro, por exemplo, deve ser deslocada para outro terreno próximo. A transferência, para Fernandes, será uma obra simples, porque a construção é modular.
Entre as intervenções necessárias, está a utilização de trechos do parque estadual do Belém, da Associação Desportiva da Polícia Militar (ADPM) e a edificação da SPTrans na rua Santa Rita.
Fernandes diz que o projeto trará vantagens além do fluxo de trânsito. Ele aponta como exemplos a melhoria no acesso a prédios de interesse público, como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e o estádio do Canindé, da Portuguesa, que deve passar por uma reforma para se transformar numa arena moderna.
A previsão da prefeitura é que a construção da nova avenida, com quase 6,9 quilômetros de extensão, tenha início no começo do ano que vem e demore 36 meses para ser concluída. A obra em si deve custar R$ 1,1 bilhão, além de R$ 492 milhões em desapropriações —ou seja, o custo total deve ser de cerca de R$ 1,6 bilhão.
O projeto prevê a construção de duas pistas em cada sentido para carros e uma destinada para o transporte público, além da faixa azul para motos. As ciclovias ficarão no centro nos trechos mais largos e ao lado da calçada nos demais.
Em razão do parque linear que será instalado na parte central da avenida, a prefeitura tem chamado o projeto de boulevard. "Se somar a área de parque linear, de 90 mil metros quadrados, com 69,7 mil metros quadrados de calçada, dá um tamanho maior do que os 111,6 mil metros quadrados de pista de rodagem", diz Fernandes.
Apesar de ser próxima da marginal e retirar o trânsito local da via, ele diz que o impacto não será alto nela.
"O trânsito da marginal só deve melhorar com a conclusão do Trecho Norte do Rodoanel, que vai retirar os caminhões que apenas passam por ela de dentro da cidade", diz. Para ele, no entanto, a nova avenida é uma ferramenta para organizar esse tráfego: o estrutural no Rodoanel, o regional na marginal e o local na nova avenida.