Fezes de baleias revelam aumento de toxinas que entram na cadeia alimentar marinha

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Uma pesquisa pioneira sobre fezes de baleias do Ártico nas últimas duas décadas revelou como o aumento das temperaturas oceânicas está provocando um crescimento de toxinas de algas nas cadeias alimentares marinhas.

O aquecimento nas águas do norte segue tendências observadas em outras regiões e está causando florações de algas potencialmente prejudiciais para animais, incluindo humanos, de acordo com dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa, na sigla em inglês).

"Nossos resultados fornecem evidências oceânicas, atmosféricas e biológicas que confirmam o aumento das concentrações de toxinas de algas nas redes alimentares do Ártico devido às condições de aquecimento do oceano", disse Kathi Lefebvre, autora principal do estudo e bióloga pesquisadora da Noaa Fisheries.

Isso foi particularmente dramático no Ártico em razão da rápida taxa de aquecimento e perda de gelo marinho, acrescentou ela.

A pesquisa publicada na revista Nature nesta quarta-feira (9) ressalta como o monitoramento das mudanças climáticas depende de conjuntos de dados de longo prazo coletados por organizações como a Noaa, que enfrenta cortes orçamentários significativos pela administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Os cientistas examinaram amostras intestinais retiradas de mais de 200 baleias abatidas anualmente para subsistência entre 2004 e 2022 por populações locais no Alasca. Níveis mais altos de toxinas foram encontrados quando o oceano aqueceu e a extensão do gelo marinho diminuiu, descobriram os pesquisadores.

As mudanças podem ameaçar a vida selvagem, incluindo fontes de alimento das quais as comunidades nativas do Alasca dependem há muito tempo, disseram os pesquisadores. Outros estudos em águas do norte estavam encontrando níveis de toxinas perigosamente altos em invertebrados marinhos como mariscos, especialmente nos mares de Chukchi e Bering entre a Rússia e o Alasca, acrescentou Lefebvre.

Florações de algas conhecidas como fitoplâncton são uma ameaça crescente em todo o mundo e se tornaram mais comuns em partes dos oceanos Atlântico e Pacífico. Elas têm um impacto generalizado porque os organismos estão na base da cadeia alimentar e, portanto, podem potencialmente afetar qualquer um dos predadores acima deles.

O estudo mais recente destaca uma preocupante "marcha para o norte" de espécies de fitoplâncton que produzem toxinas, segundo a bióloga Ailsa Hall, da Universidade de St Andrews (Escócia). A maioria das florações de algas nocivas nos EUA havia sido observada anteriormente em águas mais ao sul, como na costa da Califórnia e da Flórida, onde mamíferos, incluindo leões-marinhos e peixes-boi, morreram em "eventos de mortalidade em massa", acrescentou.

"Essa pesquisa indica que as condições oceânicas e predominantes estão se tornando mais favoráveis para que as espécies tóxicas se estabeleçam no Ártico", disse Hall, especialista no impacto da exposição a contaminantes e patógenos em mamíferos marinhos. "Embora os níveis encontrados em muitas das amostras fecais analisadas fossem baixos, a proporção de amostras contendo toxinas era alta."

O uso de baleias-da-Groenlândia como indicadores biológicos de longo prazo proporcionou uma rara visão de décadas sobre a saúde do ecossistema, de acordo com a ecologista Marianna Chimienti, da Universidade de Bangor (País de Gales). Isso poderia ser ameaçado se os cortes da Noaa afetarem o monitoramento ambiental de longo prazo que precisa de amostragem consistente, alertou ela.

A administração Trump cortou milhares de empregos na Noaa e propôs reduzir o orçamento anual da agência em um quarto.

"Interrupções poderiam quebrar conjuntos de dados vitais usados para detectar tendências ligadas ao clima, como as observadas neste estudo", afirmou Chimienti. "Reduzir o escopo dos programas científicos limitaria nossa capacidade de proteger a biodiversidade e os ecossistemas."

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