Financiamento estudantil exige planejamento para não virar problema depois da formatura

2 days ago 4

O Fies e outras modalidades de financiamento estudantil permitem que alunos ingressem em universidades particulares sem arcar com as mensalidades durante o curso. No entanto, o que começa como solução pode se transformar em problema.

Sem planejamento financeiro ou análise das perspectivas de futuro e do mercado de trabalho, o sonho da graduação pode se tornar um peso logo no início da carreira.

Folha Estudantes

Um guia semanal em 6 edições para quem precisa planejar os estudos até o Enem.

Criado com o objetivo de facilitar o acesso de estudantes ao ensino superior, o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), programa do governo federal, possibilita adiar o início do pagamento das mensalidades para depois da formatura, com parcelas proporcionais à renda.

A depender da situação socioeconômica do candidato e da oferta de vagas, é possível pode cobrir até 100% dos custos do curso, com repasse direto à instituição de ensino superior particular.

As inscrições para o programa estão abertas até sexta-feira (18).

Porém, antes de considerar essa opção, é fundamental que o candidato tenha clareza sobre o curso que pretende seguir. Especialmente nesses casos, a escolha não deve se basear apenas no interesse acadêmico, mas também na viabilidade financeira que a carreira oferece.

Segundo a educadora financeira Dina Prates, o estudante deve avaliar a própria realidade para garantir que o financiamento seja viável. Isso significa saber quanto da renda pessoal pode ser destinado aos estudos.

"Eu consigo arcar com R$ 200, R$ 300, R$ 400? Tem alguma outra pessoa que contribuiria com os custos dos meus estudos? É importante verificar qual é a capacidade de pagamento do estudante ou da família", explica.

Com o tempo, esse cenário tende a melhorar, já que o crescimento profissional normalmente traz aumento de renda. Por isso, antes de recorrer a um financiamento, é necessário que o estudante vá além da análise da própria situação financeira e elabore um plano para o futuro ainda nessa fase inicial.

"O estudante vai realizar uma faculdade durante cinco anos e depois vai ter dez anos para pagar, por exemplo. Então, ele tem que considerar um desembolso financeiro no começo da sua vida profissional, que deve ser relativamente alto frente a sua renda", orienta a economista e professora do Insper Juliana Inhasz.

Ela ressalta a importância de entender que o financiamento estudantil é um compromisso de longo prazo.

"Provavelmente algumas profissões vão começar a perder a relevância por conta de questões etárias, mudança social. É importante levar tudo isso em consideração [antes de assumir o compromisso financeiro]", afirma Inhasz.

Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), mostram que, em maio deste ano, 29,5% das famílias brasileiras estavam inadimplentes —o maior nível desde outubro de 2023.

No caso do Fies, mais de 1,2 milhões de contratos do programa apresentaram inadimplência em 2024, de acordo com o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), ligado ao Ministério da Educação.

Para reduzir o risco de ter dívida, é essencial que o beneficiário adote algumas medidas ainda durante a graduação.

Inhasz destaca que muitos estudantes conseguem gerar alguma renda por meio de estágios ou trabalhos paralelos, o que pode ser uma oportunidade para começar a reservar dinheiro e se organizar para o pagamento das parcelas.

A professora do Insper também recomenda, sempre que possível, antecipar o pagamento das parcelas, o que contribui para a redução do prazo do financiamento e dos encargos financeiros.

Além dos custos diretamente ligados ao financiamento, o aluno também precisa ter um bom planejamento financeiro e estar preparado para os custos adicionais envolvidos com a graduação.

Nessa conta entram os gastos com transporte até a faculdade, alimentação nos dias de aula, compra de materiais específicos exigidos pelo curso e até um possível aumento na internet do celular ou de casa, por exemplo, já que boa parte das atividades acadêmicas exige conexão.

Antes de recorrer ao financiamento, as especialistas recomendam que o estudante avalie alternativas mais acessíveis. Uma das principais opções é o ingresso no ensino público, por meio de universidades federais, estaduais ou institutos.

"Como a realização do Enem é requisito tanto para o Fies quanto para programas como o Prouni, muitos candidatos focam diretamente nessas opções e acabam ignorando as outras possibilidades de ingresso", comenta Prates.

Outra opção são as bolsas de estudo —não apenas os governamentais, como o Prouni, mas também os oferecidos por instituições privadas. Apenas após analisar essas alternativas é que o financiamento deve entrar no radar como uma opção, avaliando com atenção os custos e condições.

A Folha oferece assinatura gratuita para estudantes que se inscreverem no Enem; clique aqui para saber mais.

Read Entire Article