O homem morto durante ação policial estava em pé, com as mãos para cima, quando foi atingido por tiros disparados por dois policiais militares, na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, na tarde desta quinta-feira (10).
A imagem foi captada pelas câmeras corporais dos agentes envolvidos na ação e embasou pedido de prisão em flagrante dos agentes pelo comandante do 16º Batalhão, responsável pela operação que buscava prender suspeitos de tráfico de drogas na favela.
No momento em que foi atingido, Igor Oliveira de Moraes Santos, 24, estava no quarto da casa onde ele e outros três suspeitos invadiram para fugir da perseguição policial que começou em uma praça próxima.
Segundo pessoas que viram os vídeos relataram à reportagem, as imagens mostraram que outros dois policiais já haviam controlado a situação quando outros dois militares entraram no cômodo atirando. Eles não sabiam que as câmeras corporais estavam ligadas.
Atualização do sistema vigente desde setembro do ano passado permite que as câmeras sejam acionadas a distância, e gerem imagens de forma retroativa até 90 segundos antes de serem ligadas. Segundo a PM, um dos agentes ligou seu equipamento, e com isso as câmeras de outros policiais que estavam com ele foram ligadas automaticamente por bluetooth. Não há ainda informações sobre quem teria acionado as gravações inicialmente.
De acordo com a Polícia Militar, Santos e os outros três suspeitos estavam com drogas dentro de mochilas e reagiram à abordagem. Foram encontrados 595 porções de maconha, 521 porções de cocaína, 208 porções de crack, 49 porções de maconha sintética, 22 frascos de lança-perfume, 32 comprimidos de ecstasy e 4 comprimidos de LSD, além de R$ 1.300 em dinheiro.
Moradores relataram que policiais do mesmo batalhão estiveram na favela dias antes para investigar denúncia sobre o funcionamento de uma casa-bomba, local usado para refinar e separar drogas para serem vendidas.
Os policiais presos chegaram a acusar a dona da casa onde o suspeito foi morto de manter a atividade ilícita no local, o que foi negado por ela.
A cuidadora de crianças Andrea Menezes, 42, conta que estava no trabalho quando recebeu a ligação desesperada de sua filha avisando que sua casa tinha sido invadida, na tarde de quinta.
Ao chegar, ela se deparou com o quarto ensanguentado e marcas de bala nas paredes. Ela acredita que os suspeitos tenham entrado pela janela, que estava aberta, para fugir da polícia. O portão e a porta de entrada da casa estavam arrombados quando ela chegou.
Sem ter para onde ir, a cuidadora conta que passou a noite na casa de uma amiga, mas não conseguiu dormir. "Fiquei o tempo todo sentada", disse, em choque. Ela afirmou que pretende se mudar da favela, onde mora há cerca de dois anos. "Se os policiais tivessem feito o trabalho deles, nada disso teria acontecido. Era só prender."