Machos alfa são raros entre os primatas, afirma estudo

1 week ago 8

Um estudo publicado nesta segunda-feira (7) refuta a ideia de uma dominância masculina amplamente difundida entre os primatas. A conclusão dos pesquisadores oferece uma visão muito mais relativizada das relações entre os sexos opostos em macacos e lêmures, por exemplo.

"Durante muito tempo mantivemos uma visão completamente binária sobre a questão: pensava-se que uma espécie era dominada por machos ou por fêmeas, e que isso era um traço fixo. Recentemente, essa ideia foi questionada por estudos que mostraram que é muito mais complicado", afirmou à AFP a primatologista Elise Huchard, primeira autora da pesquisa publicada na revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences).

Segundo a pesquisadora, que trabalha na Universidade de Montpellier (França), estamos apenas começando a nos perguntar sobre os fatores que influenciam essa flexibilidade, como a demografia do grupo ou a proporção macho/fêmea.

Juntamente com colegas franceses e alemães, a especialista explorou a literatura científica em busca de interações que pudessem revelar uma relação hierárquica entre primatas: agressão, ameaças ou comportamentos ritualizados de dominação-submissão, como quando um indivíduo sai espontaneamente do caminho de outro.

Um trabalho de formiga de cinco anos permitiu reunir dados de 253 populações que representam 121 espécies, entre os quais lêmures, macacos, társios e lóris.

Os especialistas descobriram que os enfrentamentos —interações envolvendo atos ou sinais de agressão e/ou submissão— entre indivíduos de sexos opostos são muito mais frequentes do que se imaginava. Em média, mais da metade desses casos dentro de um grupo envolve uma fêmea e um macho.

O poderio dos machos sobre as fêmeas —ou seja, eles saíram vencedores em mais de 90% desses enfrentamentos— só foi observado em 17% de 151 populações de 84 espécies de primatas.

A dominação feminina ocorreu em 13% dessas populações, cujas espécies incluem lêmures e bonobos.

Nas demais, os enfrentamentos podiam ser vencidos tanto por machos quanto por fêmeas.

Controle reprodutivo

Nos casos em que a dominação masculina é especialmente relevante, esse poderio é observado sobretudo nas espécies em que os machos apresentam uma clara superioridade física, seja por serem maiores ou por terem caninos mais desenvolvidos.

Ou ainda em espécies terrestres, nas quais as fêmeas têm menos facilidade para fugir ou se esconder em comparação com as que vivem nas árvores.

Em contrapartida, as fêmeas tendem a dominar nas sociedades onde exercem forte controle sobre a reprodução.

As fêmeas de babuínos, por exemplo, apresentam uma tumescência que aumenta durante a ovulação. Nesse período de alguns dias, o macho "resguarda" a fêmea, seguindo-a constantemente para garantir que nenhum outro competidor copule com ela.

Entre os bonobos, esse alteração nos tecidos não é evidente, segundo Huchard.

"Os machos nunca sabem quando [as fêmeas] estão ovulando. Portanto, elas podem copular com quem quiserem e quando quiserem com muito mais facilidade", continua. Isso lhes confere muito mais poder sobre os machos.

A dominância das fêmeas também é mais comum onde existe uma forte competição entre elas, particularmente quando "o macho cuida das crias".

"Monopolizá-lo se torna, então, um grande desafio", disse a primatologista.

Nessas sociedades, as fêmeas costumam ser solitárias ou somente aceitam a presença de um macho ao seu lado.

Com isso, surge uma monogamia muito ligada à dominância das fêmeas.

Podemos extrapolar esses resultados para os humanos?

Na avaliação de Huchard, nossas origens evolutivas (diferenças físicas entre os sexos, flexibilidade nos sistemas de acasalamento...) não são necessariamente muito deterministas no que diz respeito às relações homem-mulher.

Isso nos colocaria mais na categoria dos primatas sem dominância estrita de um ou outro sexo.

"Esses resultados corroboram muito bem o que sabemos sobre as relações homem-mulher entre caçadores-coletores, que são mais igualitárias do que nas sociedades de agricultores que surgiram posteriormente", afirmou Huchard, destacando a importância de uma perspectiva interdisciplinar sobre o tema.

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