Mortes: Da música extraiu a poesia de viver e muitos amigos

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Ainda menino, Berlindo Souza Silva se destacava em uma casa de muitos irmãos, eram 11. Muito sensível e questionador, enquanto outras crianças disparavam estilingues para matar passarinhos, ele chorava com pena dos bichos.

Também chorou quando escutou Elis Regina cantar "Rebento" pela primeira vez. E, com toda a ingenuidade criativa de criança, achou que o som da guitarra era de latas de goiabada, reuniu algumas para tentar reproduzi-lo.

A música sempre esteve presente em suas brincadeiras, dizia que já nasceu músico. "As irmãs contam que ele tirava som de tudo. Na sala de aula, era batucando. E até na mesa ao comer", diz a esposa, Anny Waleska Saldanha Torres, 52.

Nascido em Mundo Novo (BA) e criado na Fazenda Bonita, em Gavião, aprendeu a tocar acompanhando os sambas rurais do interior da Bahia. Para aprender músicas, pegava discos e ouvia sem parar. Sabia nome e ficha técnica de todos que amava. Um deles era o Clube da Esquina.

Com 10 anos, começou a se apresentar como músico. Na adolescência, passou a morar em Feira de Santana (BA), onde tocou pela primeira vez em um trio elétrico.

Em referência à terra de sua família, se tornou o Bel da Bonita. Foi artista de muitas funções: cantor, compositor, percussionista, produtor cultural e diretor de videoclipes, além de pesquisador. Em Feira de Santana, ajudou muitos a gravarem o primeiro disco.

Foram mais de três décadas de carreira. Tocou por todo o país com nomes como Dominguinhos, Gilberto Gil e Elba Ramalho, quando integrou a Banda da Paz. Em 2006, criou o grupo Africania, com o qual lançou sete discos e assinou trilhas sonoras de três filmes.

Foi em uma viagem a Lençóis (BA), na Chapada Diamantina, que conheceu Anny Waleska e deu início a um relacionamento que parece roteiro de comédia romântica.

Era Réveillon quando se viram pela primeira vez. Depois de 11 dias, ele a pediu em casamento e disse que iam ter um filho para chamar de Jorge Antônio. Ela pediu demissão do trabalho em Fortaleza, vendeu o carro e três meses depois estavam morando na cidade do primeiro encontro. Ficou grávida de um menino no ano seguinte e depois mais três vezes. Foram 22 anos de casados e quatro filhos.

Em casa, Bel era chamado de Pinho, uma abreviação para Painho. Mas também recebia o apelido de Google por conta da boa memória que tinha.

Sua rotina começava com um café e uma ida à feira livre para comprar ingredientes do almoço. Era cozinheiro de mão cheia e gostava de fazer panelões, ia das receitas baianas até mediterrâneas.

Candomblecista, filho de Oxaguiã, morreu na Sexta-Feira Santa, dia 18 de abril, aos 52 anos, vítima de infarto do miocárdio.

Deixa a mulher, Anny Waleska, 52, e quatro filhos, Flávio, 22, Jorge, 20, João, 17, e Maria de Lourdes, 9.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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