Mortes: Fez obras de arte de geometria lúdica a partir de elementos da infância

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Quem fica diante do altar da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, na Asa Sul de Brasília, vê o painel de Francisco Galeno. O artista piauiense radicado na capital federal recriou, em 2009, a pintura originalmente feita por Alfredo Volpi, que foi destruída.

O convite para o restauro no templo religioso projetado por Oscar Niemeyer, considerado o primeiro da cidade, foi feito por um grupo de pesquisadores reunidos pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Galeno foi escolhido por sua relação com a cidade e utilizou no fundo o mesmo azul ultramarino que Volpi deixou em seu painel no Palácio Itamaraty.

Mas a relação do artista com Nossa Senhora de Fátima se deu muito antes, foi de berço. Por ter nascido no dia da santa, em 13 de maio de 1956, foi batizado Francisco de Fátima Galeno Carvalho.

Passou os primeiros anos de vida em sua cidade natal, Parnaíba (PI), e foi levado aos oito anos para Brasília. A família, de cinco filhos com mãe costureira e pai pescador que fabricava canoas, mudou-se quando o pai conseguiu um emprego de marceneiro no Banco Central.

Galeno começou a pintar em casa, de forma autodidata. Depois, chegou a fazer aulas com artistas em estúdios da cidade. Não se formou na academia.

Sempre trabalhou com madeira, com suportes que eram fabricados pelo pai. Nas pinturas, utilizava elementos das costuras da mãe, como o carretel com linha e agulhas de bordar. Essas referências se mantiveram por toda sua carreira.

"A obra do Galeno é uma obra sobre geometria. O que o Galeno criou tem a ver com sua própria história. É uma geometria lúdica, quase rudimentar, que resgata elementos da infância dele", diz a galerista Karla Osorio.

O artista mantinha um ateliê em Brazlândia, no Distrito Federal, e outro em sua cidade natal, onde passou boa parte dos últimos 15 anos. Suas obras estão espalhadas por grandes museus pelo Brasil —apenas no Museu de Arte do Rio (MAR) estão 13 delas. Sua carreira também foi marcada por exposições internacionais, chegando à França, aos Estados Unidos e ao Uruguai.

Também colecionadora, Karla tem mais de 50 obras do amigo espalhadas em sua casa e defende que ele "criou a obra de geometria mais original do Brasil". "Eu sempre acreditei que o Galeno é um dos maiores artistas brasileiros", afirma.

O artista, que sempre era visto com alegria, morreu no último 13 de maio, aos 69 anos, em casa, vítima de uma dengue hemorrágica.

Deixa os filhos Kalu, Pedro, Diego, Lucas e João.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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