Mortes: Querendo ser sempre o melhor, foi médico, deputado e prefeito

1 week ago 11

Filho de pai militar e mãe costureira, Liberato Caboclo desde cedo foi cobrado a se dedicar aos estudos e ser o melhor aluno da turma. A pressão familiar, muitas vezes excessiva, o instigou a nunca se acomodar.

Cabloco foi criado no bairro da Piedade, no Rio, e se dividia entre ajudar a mãe costureira na entrega das encomendas e se dedicar aos livros, como fazia o pai, que era militar. Assim que terminou o colegial (o atual ensino médio), foi aprovado em segundo lugar em medicina na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

"A mãe dele era tão exigente com os estudos que sua reação, ao saber que o filho tinha tido a segunda maior nota, foi dizer: 'a mãe do jovem que passou em primeiro lugar deve estar muito feliz'. Essa resposta fez com que ele se empenhasse ainda mais e fosse sempre o primeiro aluno no curso de medicina", conta sua companheira Silvânia Cruz, 61.

A dedicação extrema aos estudos chamou a atenção dos professores como o médico Mariano Augusto de Andrade, considerado um dos grandes nomes da cirurgia brasileira.

"Esse professor reconheceu o talento dele e o convidou para trabalhar em São José do Rio Preto, onde estava sendo instalado um centro de pesquisa em medicina. O Liberato amava pesquisar e topou a mudança para a cidade que mais tarde ele chamaria de casa", diz Silvânia.

Antes de se instalar de vez no interior de São Paulo, Caboclo estudou na Suécia e nos Estados Unidos. Em 1971, se mudou para São José para assumir um dos cargos de docente na Famerp (Faculdade de Medicina de Rio Preto).

Contabilizou ter ajudado a formar mais de 500 cirurgiões durante o tempo em que lecionou na faculdade. Também ajudou a formar e consolidar o Hospital de Base da cidade, que atualmente é o segundo maior hospital-escola do país e referência para o atendimento de mais 1,7 milhão de pessoas da região.

Com a vida acadêmica consolidada, Caboclo foi convidado a se candidatar a deputado federal pelo PDT. Venceu as eleições em 1990, exerceu um mandato em Brasília e, em seguida, concorreu à Prefeitura de Rio Preto. Mais uma vez venceu e ficou no cargo entre 1997 e 2000.

"Se tornou prefeito de uma cidade que o desafiou tanto quanto ele ousou desafiá-la. Seu mandato como prefeito foi turbulento, sim. Enfrentou resistência política e uma imprensa muitas vezes implacável. Mas não perdeu a ternura nem o senso de humor. Continuou escrevendo, clinicando, pensando", contou o amigo Carlos Alexandre Gomes.

Depois de ser prefeito, Liberato voltou a dar aulas e atender pacientes. Sempre preocupado com os mais pobres, mantinha uma conta em uma farmácia da cidade para atender aqueles que não podiam pagar pelos remédios que receitava.

Em 2004, conheceu sua companheira das últimas décadas. Silvânia acompanhava a mãe em uma consulta médica. "Ele terminou de atendê-la e perguntou se ela autorizava que ele me convidasse para um café. Conheci o amor da minha vida naquele dia."

Com problemas cardíacos e renais, Caboclo morreu no último dia 14 de junho em casa. Deixa os três filhos, Luis Otávio, Maria Fernanda e Natalya, três netos, três irmãos, os sobrinhos e muitos amigos e ex-alunos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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