Mortes: Trocou cigarro e jogos eletrônicos pelo powerlifting

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As principais ocupações de atleta de Irlei Felipe até meados dos anos 2000 eram os jogos eletrônicos. Em um quarto de casa, passava horas praticando no computador enquanto fumava. Foi por insistência dos filhos que resolveu trocar os hábitos e aumentar o horário dos exercícios na rotina.

Uma das portas de entrada foi no trabalho. Mecânico no setor industrial, Irlei participava de competições esportivas entre empresas, que tinham provas de atletismo e de levantamento de peso. Após os apelos dos filhos Vinícius Noronha Felipe, 20, e Giulia Noronha Felipe, 24, entrou para a academia.

A partir da entrada nas competições de powerlifting, uma espécie de levantamento de peso, a vida mudou. "Era marcante a autoconfiança. Ele treinava pensando sempre em quebrar algum recorde", diz Vinícius, estudante de educação física.

O filho acompanhava Irlei em diferentes competições e lembra de como o pai atleta, apelidado de "o terror da Master", categoria para atletas com 40 anos ou mais de idade, era querido pelos participantes, tanto no Brasil quanto em disputas internacionais. "Todo mundo gostava dele, ele era muito carinhoso, gentil. Parecia uma segunda família."

O incentivo ao esporte dentro de casa também começou cedo para a dupla de filhos, inscritos desde pequenos em aulas de judô. A disposição valeu até quando Vinícius avisou numa madrugada de uma seleção para um time de vôlei às 7h do dia seguinte, em São Carlos, a 120 km de Aguaí (SP), onde vive a família. "Ele dormiu, acordou e levou a gente, sem reclamar, porque queria que a gente vencesse. Não deixava a gente se abalar."

Nascido em maio de 1970, Irlei Felipe fez o ensino técnico de mecânico de manutenção. Mudou-se para São Paulo com os pais indo atrás de oportunidades de trabalho. Mas começou a dividir a semana com as visitas a Sandra Helena Noronha Felipe, 55, com quem se casou depois de voltar para Aguaí ao arranjar emprego.

A cobrança com o trabalho e com os estudos dos filhos era a mesma da que tinha com os esportes. Mas tudo repleto de brincadeiras, ao menos dentro de casa. Logo Giulia e Vinícius foram incluídos na rotina do atleta, gravando as apresentações e cuidando de seus perfis nas redes sociais.

As viagens eram o programa favorito com a família, com um destino especial —a praia da vila de Trindade, em Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro. "Ele sempre gostou muito de motos e fez uma viagem para lá com minha mãe, só os dois."

Irlei morreu em 19 de maio, uma semana após completar 55 anos, vítima de um infarto fulminante. "Nem imaginávamos que ele tinha esse impacto, não imaginávamos que ia mobilizar tanta gente", diz Giulia sobre a repercussão no meio do powerlifting. Ele deixa a mulher e os filhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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