O terceiro objeto interestelar

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A última quarta-feira (2) marcou a descoberta do terceiro objeto interestelar a cruzar o Sistema Solar. Com a confirmação de sua identidade, ele ganhou o nome 3I/Atlas. O 3I indica que foi o terceiro de seu tipo, e o nome vem de seu descobridor, o projeto de monitoramento realizado pelo telescópio Atlas, no Chile, com apoio da Nasa, a agência espacial americana.

A primeira detecção se deu na terça, mas a análise de imagens de arquivo conseguiu recuperar sua trajetória desde pelo menos 14 de junho, o que deu a confiança para cravar que é mesmo um vagabundo interestelar –sua velocidade, mais de 60 km/s, indica que ele não está preso à gravidade do Sol. Ou seja, ele veio dos confins do espaço, está apenas de passagem por aqui, e logo deixará o sistema novamente, voltando a transitar pelo imenso vazio entre as estrelas.

A descoberta marca o fim de uma certa estiagem na detecção desses objetos, já que os dois únicos encontrados antes foram descobertos em 2017 e 2019.

O primeiro deles, o 1I/’Oumuamua, de início parecia um asteroide local, depois um cometa, e por fim acabou sendo identificado como um misterioso objeto interestelar. Ele ficou famoso por seu formato peculiar (incomumente alongado, que causava mudança radical de brilho conforme ele rotacionava) e comportamento estranho (com trajetória inconsistente com o que se esperaria dele), que levaram o astrônomo Avi Loeb, de Harvard, especular que se tratava de um veleiro estelar alienígena. (Ele está praticamente sozinho nesse palpite, uma vez que afirmações extraordinárias exigem evidências idem, e as colhidas durante a rápida passagem do ‘Oumuamua por aqui estão mais para inconclusivas.)

O segundo, o 2I/Borisov, já pareceu um objeto mais típico. Proveniente do Sistema Solar, comportou-se como um cometa enquanto esteve por aqui.

E o terceiro?

O 3I/Atlas também segue esse padrão, com uma diferença importante: seu diâmetro pode estar entre 10 e 20 km, tornando-o o maior desses objetos a ser flagrado passando por aqui. Sua velocidade, por sua vez, faz dele o mais rápido de todos. Sua trajetória o levará a cruzar a órbita de Marte antes de atingir o periélio (maior aproximação do Sol), em 29 de outubro, e então começar seu afastamento, rumo ao espaço interestelar. Nesse meio tempo, será estudado pela miríade de telescópios espaciais e de solo que temos à disposição.

Até aqui, são apenas três exemplares conhecidos, mas não por falta de objetos do tipo –a formação de sistemas planetários é um processo bagunçado, e muito material é rotineiramente ejetado para fora, ganhando o espaço interestelar. Estima-se que em qualquer ponto do tempo existam cerca de 10 mil objetos interestelares viajando pelo Sistema Solar. O difícil é achá-los, o que explica a amostra modesta. Mas as coisas começam a mudar com o Observatório Rubin, recém-inaugurado no Chile. Varrendo o céu a cada três ou quatro dias, espera-se que ele descubra novos objetos interestelares todos os meses.

O acúmulo nos ajudará a estudar de perto a composição química presente na formação de sistemas planetários além do Sol, bem como decifrar a variedade desses objetos, quem sabe encontrando outros tão esquisitos como o 'Oumuamua, permitindo elucidar sua natureza.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.

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